
Da rotina herdei cascas impermeáveis às emoções. Solidarizar, para mim, não passa de um performativo, de um atuar, um quase-fingir (sim, porque atuar é diferente de fingir). Essa coisa maquinal, incrivelmente leve e destrutiva da repetição, da falta de sentido, tatuou em mim a mais perfeita das indiferenças. Seja escuro ou solar, dor ou conforto, a mim é insípido como promessas de santos, artigos científicos ou a "verdade" sempre imunda dos juristas. Entre juristas e santos o mundo foi reduzido a um marasmo asilar, com o cheiro já familiar dos banheiros de rodoviária. E aqui estou, pingando câncer e alma enquanto tropeço por essas descontruções ruidosas que insistimos em chamar de dias. Se não tivesse herdado da rotina essa minha indiferença, talvez me importasse com isso.
...preciso ir...hora de trabalhar...