terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Um adeus qualquer

No quarto fechado e abafado ela arrumava as suas coisas pra partir. Esperava que o telefone tocasse com alguma notícia que mudasse seu destino. Como ela poderia viver ou tentar ser feliz diante de tamanha tragédia? Não teve coragem de desfazer o laço que o pai amarrou no ultimo passeio juntos. Seus avós maternos, por algum motivo que ela ainda não entendia, tiravam-na de seu lar, da tão heróica companhia de seu pai para levá-la a estudos fora do país. Entendia que os avós culpassem o homem pela morte da filha deles, embora soubesse que seu pai nada tinha a ver com tudo aquilo, e desde que sua mãe descansou nos braços da morte, este nunca mais sorriu. O que não entendia e talvez nunca fosse capaz era que descontassem toda dor pessoal nela por ser apenas uma adolescente e que, nas suposições deles, era a que menos sofria diante de tudo. Enquanto enrolava o cigarro em uma toalha pra esconder de quem pudesse mexer em sua mala, uma lágrima solitária corria de seu rosto ainda infantil. Naquele momento não importava quem fosse, sentia um aperto no peito que consumia suas certezas. Ao passar pela porta, avistou seu pai esperando para dizer adeus. Seus olhos mareados, os soluços e toda tristeza escancarada em sua insatisfação em sequer dar passos rumo ao futuro; sua resignação quanto a decisão dos seus denunciavam o quanto estava infeliz. O homem que perdia seu único amor, entristecido, perguntou-a: "o que eu poderia fazer?". A resposta foi duramente suportada: 

- "eu queria que você lutasse por mim!"