sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Rádio Bogotá

Estou em Bogotá participando de um Congresso. Já é minha segunda vez aqui e recomendo fortemente. Tudo na cidade impressiona, até mesmo aqueles que não curtem muito dar uma de turista. Apesar de ser meu retorno à cidade, não tinha ouvido as rádios com atenção. Mas há dois dias atrás fiquei surpreso com a descoberta das rádios daqui. São ótimas. O que me deixou mais impressionado foi o fato de que todas as músicas são apresentadas com sua ficha completa, nomeando não somente os músicos que a interpretam, mas os compositores, o disco e o ano em que foram lançadas, em que país, etc. Num programa dedicado à música brasileira, com um respeito quase devoto, falaram de cada um dos artistas que tocaram, de Jorge Ben à Tulipa Ruiz, contextualizando suas músicas em relação à época e à região do país. Cometeram algumas impropriedades ao tentar relacionar toda a música do nordeste com disputas entre trabalhadores rurais e proprietários de engenhos de açúcar, (rsrsr) mas tudo bem, pra compensar fizeram um ótimo retrato da região, falando sobre seu litoral, sua economia, sua arte. Tentam falar o máximo possível sobre as músicas, mas sem cansar e te tentar a mudar a sintonia.

E essa regra não se aplica somente à músicas estrangeiras, que geralmente são de países latinos, não ouvi nada em inglês desde que cheguei. Todas as músicas recebem o mesmo tratamento, até mesmo a quase onipresente salsa, que toca o dia inteiro nos ônibus, elevadores, lojas, táxis, tem suas canções, que já são de uma familiaridade muito grande de todo o povo, apresentadas com grande entusiasmo.

As rádios brasileiras desaprenderam a fazer isso há muito tempo, assim como desaprenderam a tocar música brasileira que não seja da pior qualidade, como mostra o monopólio irritante do sertanejo universitário nas rádios. Quando não estão tocando essa b*st* estão tocando porcarias estrangeiras, como Justin Bieber. Os compositores não existem para as rádios, músicas que não sejam comerciais o suficiente também não, e esse é um conceito muito restrito. E isso, mesmo que hoje as rádios não tenham a penetração de outrora, é muito grave. Estamos nos acostumando a esse tratamento pobre em relação à música, e as rádios brasileiras contribuem muito pra isso.