Era um segredo, uma daquelas verdades que a gente não pode revelar: o meu egoísmo.
Eu segui, durante todo este meu tempo de escolha de personagem, uma que eu pudesse moldar às minhas necessidades. Fui fria e intolerante; apaixonada, mas indiferente. Fiz das minhas lágrimas a única honestidade: ninguém as viu rolar, ninguém abafou o peito.
Minha personagem sempre fez da intimidade o meio para se manter só, para saber viver do lado de fora, “sozinho no tempo”.
Alguma vez alguém quis enxergar como era o meu mundo, mas ninguém mais tempo para ‘neverland’; o alguém se cansou da espera, o alguém era ‘amor senso comum’... E eu sou amor de brincadeira, um amor para ensinar e aprender a ser livre, a ser leve. Uma paixão intensa e profunda que só se permiti pequenas doses.
Da necessidade em ser discreto, para ser particular. Do amor que não precisa de um nome, sem círculo... Uma simplicidade sem endereço, sem carta, sem destinatário.
E eu não sou daqui, nunca fui de lugar nenhum;
Não sou minha e nem sou sua. Do acaso pertenço, quando me agrada;
Não me recluso num canto por pensar em alguém que conheço. Deixo-me jogada num
canto, por chorar amor à pessoa que ainda – e, talvez, nunca conheça- não sei quem é;
Não me faço fraca, para que possas embalar-me em teus braços: não preciso;
Não quero ser moderna ou tradicional;
Não preciso provar meu caráter, nem demonstrar minha fortaleza;
Choro quando choro, por mim e para mim. Não ouvirás minhas lágrimas, não saberás o
motivo de molharem meu rosto;
Não conhecerás meu sorriso, ou o porquê das minhas risadas. Me olhará sempre
procurando explicação, e se contentará com os olhos infantis e um sorriso jocoso.
- Então para quem são estes "nãos"?
- Para qualquer um.
terça-feira, 16 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
Um tributo ao olhar
Talvez este seja um assunto para ser melhor explorado no Tersol Geral, blog do nosso comparsa Ramon. Fato é que certos olhares são mais expressivos do que uma tese de doutorado. Este é o mote do filme argentino “O segredo dos seus olhos”, que recém estreou nos cinemas brasileiros, e é um dos candidatos ao Oscar de melhor filme estrangeiro. O filme conta a história de Benjamin Espósito, que ao se aposentar do cargo de funcionário de um Tribunal, resolve escrever um livro sobre um caso policial ocorrido 25 anos antes, sobre o estupro e assassinato de uma jovem recém-casada. Espósito foi quem descobriu o autor do crime.
Como disse no parágrafo anterior, são os olhos que ditam os acontecimentos do filme, como a troca de olhares entre Espósito e sua colega de trabalho, Irene. Essa troca se mostra em todos os momentos, desde a chegada de Irene ao Tribunal até o interrogatório informal que acaba por desvendar a autoria do crime brutal. Antes disso, foi um olhar em uma foto que despertou em Espósito a suspeita de quem seria o assassino.
Olhar que também surge através dos óculos do colega de seção, o alcoólatra interpretado por Guillermo Francella, que dá a tônica do humor do filme. Aliás, grande mérito do filme é unir vários gêneros em uma só história. Há o citado humor, há o suspense na investigação sobre o crime, o drama do viúvo, que se apóia em Espósito a fim de conseguir uma pena justa para o assassino, e há o romance no flerte entre o oficial de justiça e sua colega, a bela Irene.
Uma dica também é prestar atenção na simbologia da letra A durante o filme, iniciada pelo defeito na máquina de escrever do aposentado oficial de justiça, aspirante a escritor.
Um belo filme, que vale cada centavo pago no ingresso. Torço por ele na premiação do Oscar.
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