terça-feira, 26 de agosto de 2014

.i´m with you

- Eu avisei.
- O quê?
- Que ia chegar um momento em que eu ia andar mais rápido e que você ficaria um pouco pra trás, mas que eu ia te esperar lá na frente.
- É verdade. Senti tua falta.
- Mas eu olhei de longe. Você aproveitou bem esse tempo.
- Teria sido mais fácil com você por aqui.
- Mais fácil talvez. Mas será que você teria vivido todas estas experiências? Teria visto aquela paisagem? Teria visto o nascer do Sol por este ângulo?
- É. Acho que não.
- Teria conversado com aqueles sábios que te ensinaram coisas importantes? Teria passado por aqueles dissabores que serviram pra te fazer ficar mais alerta?
- ...
- É difícil enxergar em si uma evolução, né? Mas ela tá aí, perceptível, indisfarçável. E o 'lá na frente' que eu falei até já ficou pra trás.
- Você é incrível.
- Você que é. Vem, me dá a mão. Lá na frente a gente para um pouco e toma um lanche.
- Ok.

domingo, 10 de março de 2013

O próximo tango

Menos é mais... ou menos?
Poderia ao menos tentar disfarçar o desdém...

É distração ou medo?
Você fala como se soubesse o que é ser leal.

Mas nem assim convence
Ser leal não garante que você possa ser alguém.


sábado, 19 de janeiro de 2013

Nossos passos de dança

Dançávamos tanto que a dança do tempo não nos alcançava.
Dançávamos tanto, e o tempo passava, e ninguém se importava de vê-lo passar.
E passávamos tanto os mesmos passos de dança, com a mesma esperança de quem vive a dançar.
Dançávamos tanto que o mundo parava pra nos ver girar.
Girávamos tanto que a cada volta, um abraço no mundo poderíamos dar.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Por que nós?


Em tempos de buscas romantiquinhas pra comemorar o dia dos namorados, estive pensando em outras formas de amor: admiração platônica, amizade, a pureza de uma ternura inexplicável, entre irmãos de sangue, entre irmãos de escolha, pais e filhos, filhos e pais, entre pessoas e animais, amor de amar e ser amado, amor não correspondido, amor entristecido, amor em tudo, em todos, em nós. Então, por que nós?

Há alguns anos, meses, ou apenas dias, um amigo me mandou uma música e disse que se lembrava de nossa amizade e tudo fez todo sentido. Não dei importância ao nome do cantor, ao gênero musical a que ele pertencia, sequer quais eram as suas referências. A música estava ali e isso bastava. 

Quando digo: "a música estava ali" quero dizer que a amizade estava, o carinho estava, o amor estava. a música era tudo isso em algumas notas de piano, melodia, letra e voz. A música era essa expressão do que precisava ser naquele instante. E o que mais seria a música além disso? Por que nós? Marcelo Jeneci pergunta e a resposta está aqui: 


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Tirando os heróis do armário

De uns meses pra cá voltei a me interessar por histórias em quadrinhos. Da época em que eu havia parado de vez com os comics, há mais ou menos uns 8 anos, até hoje, muita coisa mudou nesse seguimento. A qualidade das publicações no Brasil, principalmente. Abandonando o execrável formatinho, com seu papel jornal e suas cores horrorosas, as editoras investiram em encadernados e álbuns luxuosos. É muito legal ver como Milo Manara ou Neil Gaiman estão sendo publicados aqui. Ainda que o preço das edições seja bem superior ao do antigo formatinho, em boa parte dos casos vale a pena. Além disso, uma das coisas que me trouxe de volta a esse mundo foi a possibilidade de ler histórias antigas que sempre tive vontade mas nunca tive acesso, ou reler algumas histórias que sempre adorei com uma nova roupagem e um melhor tratamento. Acho interessante a discussão sobre o status de arte dos quadrinhos. Essa polêmica se estende desde o Menino Amarelo até os dias de hoje e está longe de ser resolvida. Pra mim histórias em quadrinhos são arte sim, mas eventualmente. Na maior parte do tempo é indústria e só. Mais ou menos como o cinema americano. Essa verdade é mais explícita no que tange aos quadrinhos de herói. Eventualmente uma grande história é publicada, desafiando os próprios limites que a linguagem dos quadrinhos apresenta, mas na maior parte do tempo é só enrolação pra vender revistas mensais cada vez piores, que precisam se rechear com eventos especiais (cada vez menos especiais devido a sua constante reciclagem), pra um público cada vez menos interessado em boas histórias. Para cada Watchmen da vida temos uma série de imposturas do nível de A Morte do Superman, para cada Reino do Amanhã besteiras gigantescas como Heróis Renascem. Uma história curta como Coyote Gospel (o Evangelho do Coiote) de Grant Morrison vale mais do que praticamente tudo que se publicou dos X-Men na última década. Mas esse tipo de história fica soterrada em meio às avalanches de revistas mensais e seus puta eventos que "estremecem todo o universo". Na década de 90 a onda das editoras de herói era fazer todos os personagens violentos, rangendo os dentes e distribuindo pancada pra todo lado. Uma "wolverinização" dos heróis. A moral americana tradicional, expressa em personagens como o Superman ou o Capitão América foi sendo abandonada e substituída por uma maneira funcional do herói encarar o problema: se matar o vilão resolve a parada, pau nele. Ainda que tal postura tenha rendido algumas boas histórias, explorando os limites entre o bem e o mal, o heroísmo e a vigilância, etc e tal, a maioria do que se viu foi só porrada sem sentido. A Image Comics inclusive era uma editora especializada nisso. Hoje a onda é a mesma. Os heróis continuam distantes da moral do american way of life na sua versão oficial (porque, na verdade, resolver tudo na porrada é o verdadeiro american way of life) e as revistas mensais continuam um desfile de argumentos fracos que se estendem por centenas de edições. As publicações de um herói se encavalam com as de outro pra aumentar a vendagem e se torna quase impossível ler uma boa história com começo, meio e fim. Mas uma coisa mudou: se antes a morte de um personagem (que dificilmente permaneceria morto) era o mote principal de um grande evento pra aumentar as vendas de uma revista mensal, hoje a ordem é transformar o personagem em gay. A Marvel fez isso com o Estrela-Polar, um personagem secundário, membro da secundária equipe Tropa-Alfa. O cara casou recentemente e tudo. Na esteira a DC havia anunciado que um personagem icônico de seu universo sairia do armário. Hoje foi anunciado que esse personagem é Alan Scott, o Lanterna Verde da era de ouro, hoje parte da Terra 2, uma das "realidades alternativas" do recentemente rebootado Universo DC. Scott, antes de todas essas mudanças, já foi um personagem com inclinações homofóbicas e já teve um filho gay, hoje ele é o mais novo herói a sair do armário. James Robinson, o roteirista responsável pela atual fase do personagem tenta em suas entrevistas dar a entender que a homossexualidade de Scott é algo tranquilo e normal, parte da proposta do universo DC em representar o mundo plural e multifacetado dos dias de hoje. Bacana isso. Pena que a DC não pensa assim. Todo um marketing canastrão foi preparado, escondendo quem seria o personagem mas reiterando que o mesmo era um ícone da DC. Alimentaram muitas especulações sobre quem seria o personagem até revelarem o Lanterna. E aí uma história que poderia realmente trabalhar para criar a ideia de que nada errado existe com os homossexuais acabou se tornando um mega evento, gerando exatamente o contrário do que se pretendia. Quando a editora faz isso, ela vende a imagem que os gays são animais tão exóticos que a existência de um herói gay merece ser alardiada durante semanas. "Vamos ser tolerantes com ele, deixá-lo beijar na boca e se casar, mas isso é tão anormal que merece uma edição especial". E é claro, tudo tem que ser feito da forma mais segura possível. Primeiro, os personagens do primeiro time, Batman, o Super e tal, não podem ser gays. Segundo, o gay vai pra Terra 2, mais fácil de ser descartada e esquecida se tudo der errado. Se vender muito podemos nos preparar pra uma onda de personagens se assumindo. Até parar de vender. Daí volta tudo ao que era antes, através de alguma reformulação inexplicável. Estrela-Polar talvez seja o único herói gay que tem chance de permanecer como tal, mas eu já não apostaria nisso em relação ao Lanterna. Assim como na década de 90 onde ninguém permanecia morto, duvido que alguém vai ficar gay muito tempo nos quadrinhos atuais. Ruim pros gays, pior ainda pros quadrinhos.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

"No todo torpor, no todo ardor..."

Despedaçador o dia em que nada mais seria preciso para que eu deixasse de estar ao lado...
Vi que seria possível desgostar das possibilidades e me perder de improviso naquilo tudo que eu não consegui prever...
Me daria ao luxo de ser apedrejada... lhes daria a chance de se tornarem deus...



Refiz alguns caminhos de passos cambaliantes...
...desespero e gargalhadas largas.



Ela tão linda... absorvida no que eu dizia... se entregou àquilo que eu poderia fazer...
E de feito, dito, desejado, gozado, rido... malcriado e acabado:
portas fechadas, nomes esquecidos... dados não gravados...

Cheiros diversos no cheiro do meu corpo...

Perfumes e palavrões...

Identidades falsas...

Vodcas e jogos...

Impedida de sequências, busco a maestria no primeiro filme...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

"...rebuliço no cortiço..."

A porta estava aberta. Assustou-se

Entrou em casa e encontrou tudo revirado. “É ele. Só pode ser ele.”

Seu filme favorito estava jogado no chão, quebrado. Era pessoal. Era um recado.

Não ignorou o silêncio. Procurou por seu cachorro. Chamou. Não houve resposta. Vasculhou os cômodos, mas não o encontrou.

Sentiu uma súbita vontade de mijar, foi ao banheiro.

O banheiro era branco com detalhes em metal. Havia uma pia, vaso, cortina, escova de dentes, touca, uma vodka, toalhas, meias, calcinhas, camisa de futebol, um livro, palavra cruzadas – ouvi dizer que seu intestino era preguiçoso -, chuveiro, secador de cabelos, tesoura, shampoo, sabonete, bucha, creme, copo, rádio, cigarros, fósforo, caneta, tapete, pinça, absorvente, e o que ela mais gostava no banheiro, a banheira: grande, com hidromassagem.

Me disseram que ela chegava em casa, brincava com o cachorro, subia ao banheiro, enchia a banheira, abria a vodka, entrava na água, afundava a cabeça, prendia a respiração, abria os olhos, soltava o ar devagarinho e levantava. Bebia da vodka, da garrafa... e fazia tudo outra vez. Saia. Sacudia o corpo. Se secava. Botava roupa seca, e ia pôr comida pro cachorro.

Na cozinha, abria uma cerveja, dava um pouco pro bicho. Comia salada. Não gostava de carne. Ligava o som, dançava... e o cachorro corria atrás dela, e mordia seus tornozelos... queria brincar, só fazia isso.

Quando entrou no banheiro, viu o cachorro... e o sangue: estava morto. Um cheiro de vodka, sangue, cerveja e cigarros impregnado no ambiente.

O cão estava morto, dentro da banheira. Seu sangue misturado com a água, a vodka, a cerveja, e o cigarro. Na banheira havia tudo o que ela mais amava.

Final 1

Ficou em pé, diante da banheira, olhando o quadro: “Lynch, seu bastardo.”

Riu.

Saiu.

Desceu à cozinha e abriu a geladeira; encontrou uma faca suja de sangue.

Havia ainda uma cerveja.

Bebeu.

Final 2

Olhou a cena, o sangue: Lynch, seu bastardo...

Olhou o banheiro... gravou a cena na memória... sentiu uma leve tonteira... desmaiou...

Acordou, tempos depois.

Se levantou, tirou a roupa. Cortou a mão, deixou que seu sangue escorresse pelo braço e caísse na banheira.

Entrou , e fez parte daquela imensidão morta, de amores: a moça, o cachorro, a banheira, o sangue, a vodka, a cerveja e o cigarro.

Restava ainda um pouco de vodka na garrafa. Bebeu. “Aquele patife miserável...”

Saiu da banheira, se lavou na ducha extra. Vestiu-se.

Telefonou.

- Eu vi o que você fez. Não estou me sentindo bem. Venha aqui?!

Ele foi. Ela o beijou a face. Ele tirou a roupa e a abraçou. Ela Enfiou uma faca em suas costas... Seus olhos ainda a olhavam... Ele sorria.

A moça postou o corpo do assassino de cervejas dentro da banheira, da grande banheira que comprara... Esperou.

O olhar do rapaz se tornou aflito... ela tapou sua boca, com uma camisa... Ele morreu.

Ela, outra vez, entrou na banheira. Adormeceu.

Acordou espantada. Gritou. Desmaiou.

Acordou. Sorria.

Se lavou e se trocou.

Pegou uma carta, leu, queimou e riu.

Ouvi dizer que eles combinaram. Eram fanáticos em Lynch e Jodorowsky. Ele fez sua parte, ela não. Ele se matou. Ela o traiu, deveria estar morta.

Ela deixou o pó da carta sobre o chão. Desceu. Abriu a geladeira.

Bebeu uma cerveja...