quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O quarto círculo...


Da rotina herdei cascas impermeáveis às emoções. Solidarizar, para mim, não passa de um performativo, de um atuar, um quase-fingir (sim, porque atuar é diferente de fingir). Essa coisa maquinal, incrivelmente leve e destrutiva da repetição, da falta de sentido, tatuou em mim a mais perfeita das indiferenças. Seja escuro ou solar, dor ou conforto, a mim é insípido como promessas de santos, artigos científicos ou a "verdade" sempre imunda dos juristas. Entre juristas e santos o mundo foi reduzido a um marasmo asilar, com o cheiro já familiar dos banheiros de rodoviária. E aqui estou, pingando câncer e alma enquanto tropeço por essas descontruções ruidosas que insistimos em chamar de dias. Se não tivesse herdado da rotina essa minha indiferença, talvez me importasse com isso.


...preciso ir...hora de trabalhar...

Sobre entrelinhas, reticências e outros quetais

E se o melhor que eu puder dizer pra você seja possível apenas por meio de comunicação não-verbal? E se eu não tiver um lápis, caneta ou laptop? E se você não entender minha língua, minhas gírias, minha gagueira ou meus cacoetes? E se nada que eu disser resolver teus problemas? E se eu falar o que você não quer ouvir? E se eu me negar a falar? E se as reticências forem mais relevantes do que as palavras? E se as coisas relevantes estiverem nas entrelinhas? E se o barulho lá fora for ensurdecedor? E se o silêncio aqui dentro for amedrontador? E se nada fizer sentido? E se fizer todo sentido? E se tua educação formal não te ensinou como ser humano? E se tua humanidade não te garantiu o profissionalismo? E se eu parar de te questionar? Sua inquietação terminará? Ou sentirá falta de uma nota dissonante?


Sendo assim, me despeço. Deixo como herança algumas entrelinhas e reticências. Faça bom proveito!

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*Este texto nasceu inspirado em um outro, chamado "reticências", escrito pela Maísa há um tempo atrás. Leiam aqui.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

a conclusão é sua

De quem é esta voz que todo mundo ouve, mas ninguém percebe? É um sussurro, mas parece um mantra. Todos aprendem, todos aceitam; mas não há uma inteligência real de impedi-la porque é como se ela não existisse. Simples assim. Entram em nossas vidas, ditam valores, comportamentos, dizem-nos o que fazer; mas sua covardia nos confunde com qual parte do que acreditamos é nosso e qual parte do que acreditamos é imposto. Nos confundimos neste termo, exatamente naquele pontinho pequeno que divide dois abismos completamente diferentes. Não sabemos onde começamos, nem onde terminamos. Voz tão cruel que nos ensina a ser o que não somos e renunciar a nós mesmos. É criminoso roubar de alguém o direito de viver e existir, e vice-versa.
Incoerente que qualquer pessoa diz em algum momento da vida odiar falsidade, mas que o mundo ainda seja tão consumido por ela. Incoerente que os mesmos que compram os livros de auto-ajuda em busca do alcance de uma felicidade enlatada também comprem as revistas de beleza e comportamento. Me convence pela distorção de valores tão comum no ser humano atual e sua insatisfação pessoal que tende a cada vez mais piorar, mas ainda assim acho importante questionar.