Ela flutua. O pensamento longe, longe. “A vida é como um jardim”, concluía em suas divagações. "Cabe a nós ir aparando os galhos, molhando as raízes, tirando as ervas daninhas, colhendo algumas flores, se sujando com a terra, se machucando com algum espinho".
Espinhos. Quisera ela que as luvas que comprara a protegessem deles. Mas não, o espinho ultrapassa a luva, machuca, sangra, deixa marca. Conviver com a marca é o desafio. Pode ser benéfico. Passar a mão naquela cicatriz, lembrar do motivo que ocasionou a ferida, constatar que a vontade era apreciar a beleza de uma rosa. Uma lágrima rolou. Mas não deixou de se encantar. A rosa continua lá, exibindo sua delicadeza, contraposta com a imponência do espinho. “Deve ser como um escudo”, pensou. “Às vezes, a delicadeza pode causar danos a nós mesmos”, continuou, enquanto enxugava as lágrimas. “A rosa não deixa de ser ela mesma por causa deste mecanismo de defesa. Já a gente não, fica mais cauteloso, tenta se prevenir, se predispõe a achar que a rosa é má. A gente fica mais agressivo sem perceber, por medo. E o medo deveria ser uma mola propulsora. Uma chance de mudar o caminho, sem desviar tanto do objetivo final”. E pensando nisso, foi cuidar das plantinhas ao redor. Um sorriso insiste em pairar no seu rosto. E com os pés no chão, ela flutua.
Lindo!
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