Onde está a máquina que registra nossas inquietações?
E o scanner que captura nossas dúvidas?
Cadê o gravador de nossas lástimas?
Cadê o filtro que dilui nossas culpas?
Em que tipo de papel foi escrita nossa história?
Quantos megabytes tem nosso disco de memória?
Qual é o sistema que processa nossos dados?
Em que programa eles foram formatados?
terça-feira, 18 de maio de 2010
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Julgamento final
- Se eu lhe contar o segredo voltará para me buscar?
- Sim, diga logo. Você está muito machucado, sangrando, precisa de ajuda.
- Eu sei que sua preocupação real não é esta. Não pode fazer nada por mim se não tiver como voltar, eu sei. Não sei como conviveremos com isso. Sempre disse que você deveria crescer e parar um pouco de avançar limites que desconhece. Por que diabos pulou de paraquedas em cima da casa de madeira se sabia que eu estava aqui?
- Não foi planejado, você sabe. Me diga logo.
- Estou sem alternativas, então ouça: trará ajuda e como bem sabe, não há como esconder o que ocorreu. Mas se trata de minha vida e vou tentar defendê-lo como puder. Gire aquela manivela até o fim, vá até aquele outro lado e quando a estante de livros se afastar, empurre.
- Tudo bem. Volto em instantes. Vai ficar bem?
- Se eu não tivesse soterrado por escombros por sua culpa, eu poderia aguentar melhor. Vá logo.
Ao passar pela porta, sentiu que o prédio balançara e junto um peso na consciência. Reconhecia toda a responsabilidade pela tragédia e sabia que precisava ajudar o companheiro, mas sentia medo. Nunca esteve acostumado a pensar com seriedade e agora a agonia do que podia acontecer o impossibilitava de fazer o óbvio. Estavam igualmente presos, mas só um tinha a escolha. Um homem soterrado nas madeiras de uma casa velha, e o outro soterrado no pânico ingênuo de uma alma jovem demais.
Ninguém sabe se ele voltou. Ninguém sabe se salvou. Ninguém sabe...
- Sim, diga logo. Você está muito machucado, sangrando, precisa de ajuda.
- Eu sei que sua preocupação real não é esta. Não pode fazer nada por mim se não tiver como voltar, eu sei. Não sei como conviveremos com isso. Sempre disse que você deveria crescer e parar um pouco de avançar limites que desconhece. Por que diabos pulou de paraquedas em cima da casa de madeira se sabia que eu estava aqui?
- Não foi planejado, você sabe. Me diga logo.
- Estou sem alternativas, então ouça: trará ajuda e como bem sabe, não há como esconder o que ocorreu. Mas se trata de minha vida e vou tentar defendê-lo como puder. Gire aquela manivela até o fim, vá até aquele outro lado e quando a estante de livros se afastar, empurre.
- Tudo bem. Volto em instantes. Vai ficar bem?
- Se eu não tivesse soterrado por escombros por sua culpa, eu poderia aguentar melhor. Vá logo.
Ao passar pela porta, sentiu que o prédio balançara e junto um peso na consciência. Reconhecia toda a responsabilidade pela tragédia e sabia que precisava ajudar o companheiro, mas sentia medo. Nunca esteve acostumado a pensar com seriedade e agora a agonia do que podia acontecer o impossibilitava de fazer o óbvio. Estavam igualmente presos, mas só um tinha a escolha. Um homem soterrado nas madeiras de uma casa velha, e o outro soterrado no pânico ingênuo de uma alma jovem demais.
Ninguém sabe se ele voltou. Ninguém sabe se salvou. Ninguém sabe...
terça-feira, 4 de maio de 2010
"Joga pedra na Geni, joga merda na Geni... maldita Geni."
- Alô!
- Fê, é o Ricardo. Vamos sair hoje? Tem uma festa p’ra gente ir. Open bar.
- Ricardoooo. Claro. Estou mesmo sem nada para fazer.
Sim, Ricardo estava se tornando um bom amigo. Ele sabia que eu o tinha em grande estima, como amigo. Eu não era muito de namorar, não gostava. Mas sempre adorei dançar e beber. Não via motivos óbvios para recusar um convite de um amigo, para beber e dançar, então fui com ele a tal festa. Confesso, até, que o achei um tanto quanto solícito demais, mas pensei que fosse pela distância (não nos víamos há certo tempo. Ele morava numa cidade diferente da minha). Quando chegamos à festa, sentamos numa mesinha e começamos a beber. Disputávamos doses, quem tomava mais. Sempre fui uma excelente consumidora de doses. Era uma disputa acirrada. Ficamos nas tequilas. Entre vira-viras e conversas, a gente dançava. Era como ‘limpar’ o corpo para mais uma rodada. Foi muito divertido. Dançamos muito, de forma sensual. Foi engraçado porque resolvemos encenar, dançando, toda aquela sensualidade que existe quando ‘Antônio Banderas e Salma Hayek’ fazem um par romântico. Era uma cena de filme dançante (sim, sempre gostei de filmes. E sempre tive a mania de dançar imitando algum casal ou alguma cena. Já dancei até imitando a cena da ‘banheira’ do filme ‘psicose’.). A noite foi passando, as doses foram entrando no corpo e embaraçando os nossos sentidos. Em uma determinada hora, eu já estava cansada. Não estava bêbada, estava apenas tonta. Mas, depois de dançar a noite toda era justo eu estar cansada. Pedi ao Ricardo para que fôssemos embora. Quando estávamos saindo, um amigo dele apareceu e pediu carona. Fomos os três embora.
Fui no banco de trás do carro, estava com muito sono. Pedi ao Ricardo, então, que me acordassem quando chegassem à minha casa. Fui acordada, mas não em casa. Não sabia onde estava. Eles me arrastaram pra dentro da casa, e trancaram as portas. Eu desesperei, um pouco, ainda confiava numa explicação lógica por parte do meu amigo. Mas ele não se explicou. Aproximou-se de mim e disse “fiquei com vontade de foder com você. Você me deixou louco.”. Eu fiquei espantada, disse a ele que não queria. Que eu nunca dei a entender que teria algo com ele. E foi ai que o outro cara aparece e disse “não será só com ele que você foderá hoje. Vamos nos amar, benzinho.”. Não senti medo. Senti nojo. Minha alma estava em pedaços, carregada de ódio. Tentei encontrar uma saída, mas o Ricardo veio e me agarrou, me segurou enquanto seu amigo arrancava minha roupa e dizia toda e qualquer obscenidade para ‘me agradar’. Sua língua no meu corpo, suas mãos rasgando minha dignidade, ferindo minha existência. Me carregaram pra cama e prenderam minhas mãos na cabeceira da cama. Um e depois o outro; e depois o um; e depois o outro. Violaram minha boca, meus olhos, minha alma. Sujaram meu corpo e macularam minha humanidade. Gozaram em mim, e me fizeram sangrar. A dor física era imensa. Não havia delicadeza, claro. Eu era uma boneca onde eles metiam seus paus até que se esgotassem os espaços, e forçavam mais um pouco. Um e depois o outro; e depois o um. Quando enjoaram da boceta me amarraram de costas. Eu nunca tinha feito sexo anal. Foi uma dor lancinante. Um e depois o outro; e depois o um e o outro. Ouvi um deles dizer (nessa hora que eu já não sabia mais qual a voz de qual estuprador) “essa vadia tá sangrando por todos os lados. Melhor a gente parar. Já gozei demais nessa puta.”. E me vestiram. Eu estava imóvel. Pegaram uma garrafa de vodka e derramaram em mim “cu de bêbada não tem dono mesmo. Vão achar que ela fez por onde”.
Me deixaram na porta de casa, jogada. De manhã, alguém me acordou. O alguém me conhecia, chamaram meus pais. Contei a história e minha mãe disse “sim, cu de bêbado não tem dono. Se mulher bebe e dança desse jeito, ta pedindo pra ser estuprada sim. Você não vai fazer nada. Melhor para você é ficar quieta. Ninguém vai acreditar e vão achar que você pegou AIDS e é vagabunda. Agora toma conta de si mesma. E fica na sua. Caso contrário vai arrumar mais problema para você. Você sabe que os homens são assim mesmo. Eles acham que têm direito a tudo. Ainda mais quando a mulher facilita. Ninguém vai acreditar em você. Vão achar que você é mais uma vadiazinha que fica fazendo manha com homem, afinal de contas, o Ricardo era íntimo seu. E com essa sua mania de ‘independência feminina, dirão que você quis fazer esse tal de menage. Por isso eu digo: arruma um marido e casa logo. Assim você estará protegida.”.
- Fê, é o Ricardo. Vamos sair hoje? Tem uma festa p’ra gente ir. Open bar.
- Ricardoooo. Claro. Estou mesmo sem nada para fazer.
Sim, Ricardo estava se tornando um bom amigo. Ele sabia que eu o tinha em grande estima, como amigo. Eu não era muito de namorar, não gostava. Mas sempre adorei dançar e beber. Não via motivos óbvios para recusar um convite de um amigo, para beber e dançar, então fui com ele a tal festa. Confesso, até, que o achei um tanto quanto solícito demais, mas pensei que fosse pela distância (não nos víamos há certo tempo. Ele morava numa cidade diferente da minha). Quando chegamos à festa, sentamos numa mesinha e começamos a beber. Disputávamos doses, quem tomava mais. Sempre fui uma excelente consumidora de doses. Era uma disputa acirrada. Ficamos nas tequilas. Entre vira-viras e conversas, a gente dançava. Era como ‘limpar’ o corpo para mais uma rodada. Foi muito divertido. Dançamos muito, de forma sensual. Foi engraçado porque resolvemos encenar, dançando, toda aquela sensualidade que existe quando ‘Antônio Banderas e Salma Hayek’ fazem um par romântico. Era uma cena de filme dançante (sim, sempre gostei de filmes. E sempre tive a mania de dançar imitando algum casal ou alguma cena. Já dancei até imitando a cena da ‘banheira’ do filme ‘psicose’.). A noite foi passando, as doses foram entrando no corpo e embaraçando os nossos sentidos. Em uma determinada hora, eu já estava cansada. Não estava bêbada, estava apenas tonta. Mas, depois de dançar a noite toda era justo eu estar cansada. Pedi ao Ricardo para que fôssemos embora. Quando estávamos saindo, um amigo dele apareceu e pediu carona. Fomos os três embora.
Fui no banco de trás do carro, estava com muito sono. Pedi ao Ricardo, então, que me acordassem quando chegassem à minha casa. Fui acordada, mas não em casa. Não sabia onde estava. Eles me arrastaram pra dentro da casa, e trancaram as portas. Eu desesperei, um pouco, ainda confiava numa explicação lógica por parte do meu amigo. Mas ele não se explicou. Aproximou-se de mim e disse “fiquei com vontade de foder com você. Você me deixou louco.”. Eu fiquei espantada, disse a ele que não queria. Que eu nunca dei a entender que teria algo com ele. E foi ai que o outro cara aparece e disse “não será só com ele que você foderá hoje. Vamos nos amar, benzinho.”. Não senti medo. Senti nojo. Minha alma estava em pedaços, carregada de ódio. Tentei encontrar uma saída, mas o Ricardo veio e me agarrou, me segurou enquanto seu amigo arrancava minha roupa e dizia toda e qualquer obscenidade para ‘me agradar’. Sua língua no meu corpo, suas mãos rasgando minha dignidade, ferindo minha existência. Me carregaram pra cama e prenderam minhas mãos na cabeceira da cama. Um e depois o outro; e depois o um; e depois o outro. Violaram minha boca, meus olhos, minha alma. Sujaram meu corpo e macularam minha humanidade. Gozaram em mim, e me fizeram sangrar. A dor física era imensa. Não havia delicadeza, claro. Eu era uma boneca onde eles metiam seus paus até que se esgotassem os espaços, e forçavam mais um pouco. Um e depois o outro; e depois o um. Quando enjoaram da boceta me amarraram de costas. Eu nunca tinha feito sexo anal. Foi uma dor lancinante. Um e depois o outro; e depois o um e o outro. Ouvi um deles dizer (nessa hora que eu já não sabia mais qual a voz de qual estuprador) “essa vadia tá sangrando por todos os lados. Melhor a gente parar. Já gozei demais nessa puta.”. E me vestiram. Eu estava imóvel. Pegaram uma garrafa de vodka e derramaram em mim “cu de bêbada não tem dono mesmo. Vão achar que ela fez por onde”.
Me deixaram na porta de casa, jogada. De manhã, alguém me acordou. O alguém me conhecia, chamaram meus pais. Contei a história e minha mãe disse “sim, cu de bêbado não tem dono. Se mulher bebe e dança desse jeito, ta pedindo pra ser estuprada sim. Você não vai fazer nada. Melhor para você é ficar quieta. Ninguém vai acreditar e vão achar que você pegou AIDS e é vagabunda. Agora toma conta de si mesma. E fica na sua. Caso contrário vai arrumar mais problema para você. Você sabe que os homens são assim mesmo. Eles acham que têm direito a tudo. Ainda mais quando a mulher facilita. Ninguém vai acreditar em você. Vão achar que você é mais uma vadiazinha que fica fazendo manha com homem, afinal de contas, o Ricardo era íntimo seu. E com essa sua mania de ‘independência feminina, dirão que você quis fazer esse tal de menage. Por isso eu digo: arruma um marido e casa logo. Assim você estará protegida.”.
A família em peso nos Mojo Singles
A nossa integrante Maísa estreia avassaladora em seu primeiro trabalho-solo na Mojo Books, com o Single "Last Call", do Elliott Smith. Leia aqui.
Ramon Mapa também teve seu "Until it sleeps", do Metallica, publicado no site. Leia aqui.
Aproveitando que está no site, se ainda não conferiu, confira "Balada de Agosto", de Fagner e Zeca Baleiro, por Lorena Cicari, aqui.
E também, o último deste que vos escreve: "For no one", dos Beatles, por Márcio Viana, aqui.
Ramon Mapa também teve seu "Until it sleeps", do Metallica, publicado no site. Leia aqui.
Aproveitando que está no site, se ainda não conferiu, confira "Balada de Agosto", de Fagner e Zeca Baleiro, por Lorena Cicari, aqui.
E também, o último deste que vos escreve: "For no one", dos Beatles, por Márcio Viana, aqui.
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