segunda-feira, 10 de maio de 2010

Julgamento final

- Se eu lhe contar o segredo voltará para me buscar?

- Sim, diga logo. Você está muito machucado, sangrando, precisa de ajuda.

- Eu sei que sua preocupação real não é esta. Não pode fazer nada por mim se não tiver como voltar, eu sei. Não sei como conviveremos com isso. Sempre disse que você deveria crescer e parar um pouco de avançar limites que desconhece. Por que diabos pulou de paraquedas em cima da casa de madeira se sabia que eu estava aqui?

- Não foi planejado, você sabe. Me diga logo.

- Estou sem alternativas, então ouça: trará ajuda e como bem sabe, não há como esconder o que ocorreu. Mas se trata de minha vida e vou tentar defendê-lo como puder. Gire aquela manivela até o fim, vá até aquele outro lado e quando a estante de livros se afastar, empurre.

- Tudo bem. Volto em instantes. Vai ficar bem?

- Se eu não tivesse soterrado por escombros por sua culpa, eu poderia aguentar melhor. Vá logo.

Ao passar pela porta, sentiu que o prédio balançara e junto um peso na consciência. Reconhecia toda a responsabilidade pela tragédia e sabia que precisava ajudar o companheiro, mas sentia medo. Nunca esteve acostumado a pensar com seriedade e agora a agonia do que podia acontecer o impossibilitava de fazer o óbvio. Estavam igualmente presos, mas só um tinha a escolha. Um homem soterrado nas madeiras de uma casa velha, e o outro soterrado no pânico ingênuo de uma alma jovem demais.
Ninguém sabe se ele voltou. Ninguém sabe se salvou. Ninguém sabe...

2 comentários:

  1. Os mitos, as mentiras e os 'Pérolas Negras'.

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  2. Gostei muito...
    Uma das coisas que mais me fascinam, e que eu até hoje não consigo explicar, é que algo acontece por aqui e virá poesia acolá.
    Parabéns pelo blog ^^

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