sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Camisa de força da arte


para el escama, que me inspirou com um dos seus famosos bordões...

Dias atrás, Regis Tadeu fez uma publicação na qual detonava os fãs, colocando-os como verdadeiros vilões aniquiladores da arte. Em partes, ele tem razão. Tirando a arrogância e a maneira como generaliza as pessoas. Mas uma grande parcela dos fãs se envolvem tanto com o artista, que se sentem meio donos, a ponto de acreditarem cegamente que suas opiniões são realmente coerentes. O fato é que criar é um trabalho subjetivo, que compete apenas ao autor da obra. É uma atividade individual voltada para um coletivo. Há artistas com objetivos e finalidades diferentes, e não é esta a questão. Comercial ou não, é arte. E o que inspira a criar são as verdades de cada artista, e neste caso, o termo "verdade" não pode ser interpretado como arrogante, porque se refere a verdade subjetiva, a motivação interior que o dono da obra manifesta para o exterior em forma de arte. É uma obra a ser contemplada por quem se identifica com tais propósitos ou não. Por trás de cada criação existe um ser humano. Um livro, uma música ou um filme não nascem a partir do momento que você o lê ou ouve. Existe um homem que durante muito tempo imaginou aquilo, se isolou, produziu, transformou suas inspirações em técnicas pra se tornarem reais. Os fãs são só receptores e têm todo direito de não gostar, mas não o direito de sentirem-se donos do ídolo a ponto de tornar a paixão tão irracional que chega a ser obscena. Como diz um amigo meu, o cara mais entendido de música que conheço, "fã é a camisa de força da arte". Mas, como a arte é feita para um coletivo, este coletivo influencia um outro coletivo dentro dele próprio. Ou seja, um pequeno grupo de fãs determina algo e outra legião deles segue como mandamento. E aí chegamos no ponto muito bem observado pelo Claudinei de que toda grande banda tem algum disco maldito. E disco maldito é aquele que os fãs elegem como o disco que envergonha a classe, o que trai o movimento, entendem? Não sei se é tão genérico assim, mas depois que li a sugestão do Claudinei, fiquei pensando em muitas bandas e realmente, sempre tem uma injustiça criada e alimentada... por quem, mesmo? Ah, tinha que ser os fãs! No Pink Floyd, banda progressiva muito famosa nascida nos tempos da psicodelia, renegam o The Final Cut. Alguns porque Roger Waters se tornou uma espécie de ditador, usando a marca Pink Floyd para criação solo, deixando o conceito de banda a desejar e obscurecendo o brilhantismo de David Gilmour. Outros pelo ressentimento que cultivaram pela polêmica desta época e das discussões que implicaram na saída de Roger. O disco em que, descaradamente, os outros integrantes da banda foram creditados como meros músicos de apoio. Talvez o resumo seria este: Roger Waters fez o disco de seus sonhos com a banda de apoio dos seus sonhos: Pink Floyd. Pior que ele, só os músicos brilhantes, porém submissos, que aceitaram isso.Tirando as maneiras nada convencionais e não muito honestas com que as coisas foram feitas, The Final Cut é um lindo disco, que perde um pouco o brilhantismo, porque os seguintes discos do Roger são "iguais" a ele. Pegando carona no megalomaníaco Roger - e eu não uso estas palavras pejorativamente, porque o cara é isso, mesmo - o Gessinger que sempre se declarou fã do Waters, e diga-se de passagem se influenciou muito, até mesmo nas questões burocráticas de banda e os mesmos defeitos relativos ao "egoísmo" na produção de sua obra. Como Engenheiros do Hawaii é uma banda com vários discos produzidos, não poderia ser diferente, o Minuano é o disco injustiçado. Talvez trauma na época de lançamento, em que nenhum fã que se prezasse ouviu o disco sem desconfiança, após incluírem o HG3 na discografia da banda; foi pré-requisito incontestável para a não-aceitação primária do disco. Pessoalmente, costumo dizer que é um disco que envelheceu bem, porque hoje gosto bastante - com exceção de "9051", que eu engoli sem mastigar. Mas acho que talvez tenha sido eu que amadureci, ou as produções posteriores da banda tenham me feito entender as coisas de uma outra forma.
Só que a maioria esmagadora, a voz fanática que ecoa pelo mundo tortuoso dos que admiram as bandas citadas, não aceita os discos em questão e sempre dirá que são ruins. Aliás, depois de certo tempo isso vira uma questão de honra: todo grande fã deve seguir alguns mandamentos, e entre eles está amaldiçoar o disco escolhido pela grande classe. Pois é, o fã é a camisa de força da arte...

2 comentários:

  1. Ninguém mais tem soltado os cachorros por aqui...

    Bom, tenho a dizer que também "perdoei" o Minuano há pouco tempo, e ando ouvindo com mais atenção. Legal reparar nos detalhes da guitarra do Luciano Granja, que criou riffs e melodias bem elaborados. Grande exemplo está em "Humano Demais". Quanto ao The Final Cut, me falta ouví-lo mais vezes. Só me recordo de "Not Now John". Detalhe: Roger Waters demitiu Rick Wright neste disco.

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  2. Eu acho o Minuano um disco muito bem trabalhado. Estranho é que a moçada reclama até mais das letras dele.

    Do Floyd acho q temos dois discos malditos "Final Cut" e também "Momentary Lapse of Reason". Ja que um é praticamente solo do Roger e o outro solo do Gilmour.

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