terça-feira, 15 de setembro de 2009

Sobre lares e casas.

Eu estive pensando sobre ‘casa’, ‘lar’... A gente luta tanto, sacrifica tanta coisa para fazermos de um único e ‘bendito’ lugar a nossa casa, o nosso lar. Todo o resto, todo o mundo fica largado, abandonado amaldiçoado por não ser lá ou em qualquer outro lugar o nosso lar. Começo a pensar, então, que o que deveria ser o nosso lar não sejam muros e janelas, portas fechadas e cães, mas o que nos faz guarda e grita dentro do silêncio interno destas paredes e demais coisas de uma casa.
LAR. Esta é a preocupação de quase todas as pessoas, mas nós, será, sabemos usá-la, ou nos é inútil, desde que tenha sido fabricada, escriturada e mobiliada? Pensei estes dias, ao caminhar irritadamente sob um sol quente, escaldantes, assassino: o que deveria ser ‘casar’ e o lar. Primeiramente pensei: “ah! Casa é uma parada construída para que pessoas morem dentro, para que se tenha um abrigo de todo o mau natural ou humano, um refúgio.” Então pensei “puta que pariu, a gente luta a vida toda só para isso? Só para se ter no que se esconder?”. Então milhares de outros motivos vieram-me à mente, alguns egoístas, outros estúpidos, outros indiferentes. Não vale à pena se perturbar com o que é, mas resolvi queimar ‘tutano’ com o que acho que deveria ser; e deveria ser um local para se encontrar o lar, o nosso lar. “Mas, Lorena, o que diabos é este tal de lar a que invocou agora pouco?” E eu digo, caros botões, o lar é o que há dentro de você, é o que queima na sua mente, e o que o faz andar, ou não. É aquela voz que a gente não ouve, mas grita dentro das nossas cabeças. É o que nos faz chorar quando estamos bêbado e perdemos o social pragmatismo. É o que nos faz vibrar quando toca aquela música, que, sem mesmo saber o motivo, revela mais do nosso lar, do que aquelas coisas que você comprou porque achou bonitinho – e não que eu seja contra o consumo, ou que eu ache que devemos ser pobres de coisas materiais -, mas, olhando nosso mundo, vejam os pais: desejam que os filhos sejam sempre mais do que são ou podem ser, nunca se contentam; entretanto, se os perdem, não sabem mais lidar sem eles; se perdem. Assim, vez por outra, vejo que esse lar de coisas e compras, não são nossa casa, nosso refúgio; mas se os perdemos não temos lugar, isso porque achamos que coisas são insubstituíveis, ou porque, valha-me Deus, eu gastei tanto dinheiro, tanto sono, tantas horas, tanta vida, tanto o mundo e agora, simplesmente, perdi tudo e não reclamarei?
Meu lar! O que se faz dentro de um lar. Pensa-se? Dorme-se? Faz-se sexo? Faz-se nada? Escreve-se? Suicida-se? Mas todas estas coisas podem ser feitas em qualquer lugar, certo? Então, se a questão fosse, também, ouvir a voz interior e nos darmos ao luxo de sermos um hipócrita cretino a criticar tudo, faríamos em qualquer canto, oras. Então o lar é monte de madeira, ou cimento e tijolos que a gente constrói – a gente não, a gente paga para construírem o nosso lar – para nos isolarmos do mundo, mas ai a gente liga a tevê e dá de cara o Datena, e o mundo está dentro de casa. Então, que diabos seria um lar, que nos ocupa tanto a vida, que este se torna a coisa mais valiosa?
Pensei, em grau comparativo – eu que não tenho lar, moro no lar e na casa dos meus pais – em coisas que me colocam em contato com algo meu, algo meu, [compreendem?] íntimo meu. Não consegui encontrar nada, nada. Meus cadernos? Já perdi tanta coisa que escrevi, que sou uma bastarda insensível. Meus CDs? Roupas? Celular – detesto coisas que toquem como ou semelhante a campainhas -? Ah! Não encontrei nada, porém, pensei: vida capitalista, mundo capitalista, qualidade capitalista, qualificações capitalistas, pessoas capitalistas, justiça capitalista, sorte capitalista... LAR CAPITALISTA. Não é a falta de um refúgio o que machuca, ou que desespera, mas tudo o que o lar é, é algo que se compra, se precisa por status. Tem uma música (não poderia faltar) que diz “Vem que passa o teu sofrer. Se todo mundo sambasse, seria tão fácil viver”. Não quero dizer que não se precise de um teto – deveria se chamar teto, teto é um bom nome – sob o qual morar, mas é que achar que no mundo todo o único lugar a que tem direito de paz e de conhecimento interior é uma casa, é sob madeiras e cimento... me deixa confusa, e desinteressada da vida. Há tanto no mundo, e o lugar em que eu estiver, será o meu lar. Isto pois, o lar nunca está, senão conosco. Nosso corpo é nossa casa, e nossa mente nosso lar. E onde estiveres, o lar estará. O seu lar, logo, é você mesmo.

2 comentários:

  1. Precisamos de um porto. Não entendemos muito bem o motivo deste precisar que é tão desumano, por não parecer que existe uma escolha, mas precisamos de um porto. Você fez um questionamento interessante, que me deixou dúvidas a respeito de vários outros assuntos. Coisas das quais estamos acostumados a querer/fazer, mas não entendemos. Quando fazemos parte deste porto, nós não entendemos mesmo a necessidade de tudo aquilo, apesar de saber que o conforto em estar ali, de fato existe. Muito embora seja mais fácil odiar o que nos afasta, o que nos faz querer ir pra longe e rápido. Ou seja, odiar o estar ali não por ser um porto e uma zona de conforto, mas por também ser igualmente nossa prisão. Este porto, quando nunca abandonado, nos deixa a dúvida de onde somos nós e onde somos a origem deste porto. É preciso ir pra saber e entender o porquê voltar. Como qualquer filosofia na vida, é preciso se afastar pra enxergar o todo e aproveitar melhor. Pensando aqui, entre tantos motivos deste amor pelo porto, é a referência. É ter do que fugir e ter pra onde voltar. É o limite e a negação. O porto, quando visto com sabedoria, é a dosagem das nossas decisões em prol de nós mesmos. É o meio termo. Confesso que sou o fim e o começo e preciso deste meio. É tanta intensidade, que seria difícil não encontrar quando pisar quando as nuvens me levam pra longe e me perco por aí.

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  2. Marcela Vieira Analfi16 de outubro de 2009 às 11:23

    Gostei da discussão/reflexão,como sou estudante de arquitetura me interesso muito pelas idéias que rondam a habitação e o habitar. Acho que na questão da corrupção do significado da casa como lar, a coisa toda é mais complexa do que ser apenas uma expressão do modo de vida capitalista. Acho que a forma como o trabalho, a familia e as relações têm se transformado acaba por afetar o uso do espaço doméstica. Bom, mas isso é um longo papo(rs). Dias atrás achei um artigo muito interessante, como aconteceu com esse aqui(rs), sobre isso passeando pela net. É de uma psicóloga que discute os aspectos psicobiológicos por trás da idéia de lar, o nome do blog é Angelita Scardua e ela fala sobre Psicologia do Design de Interiores, bem legal!

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