terça-feira, 24 de novembro de 2009

"(...) e nossas vidas são tão normais..."


Já havia algum tempo que eu tinha vontade de assistir "A Onda", filme alemão em cartaz em São Paulo, no momento em que escrevo este texto. O filme conta a história do professor secundário Rainer Wenger, que encontra dificuldades para explicar aos alunos como o fascismo se disseminou. Ao ouvir de um aluno que dificilmente um regime semelhante ao nazismo daria certo nos dias de hoje, porque a cultura das pessoas era melhor, Wenger resolve simular em classe um sistema. Para isso, usa as ferramentas básicas do nazismo: palavras de ordem, disciplina, logotipos e até uma saudação. O erro do professor, no entanto, foi achar que conhecia a mecânica e a métrica de controle de um regime totalitarista. Projetado para durar uma semana dentro dos limites da sala de aula, o movimento acabou tomando as ruas, acumulando em suas fileiras alguns jovens que não faziam parte da turma (inclusive algumas crianças). Adesivos e pichações tomam as ruas da cidade. Os "uniformes", calça jeans e camisa branca, propostos pelo professor, ganham o emblema do movimento. Tudo toma proporção exagerada. Quando um aluno fanático passa a seguí-lo, e quando pessoas mais sensatas começam a questionar os métodos, Wenger, nitidamente entra em crise existencial, ora julgando que todos têm inveja de seu sucesso, ora caindo na real de que exagerou em seu plano. A todo momento, o filme denota que as consequências seriam irreversíveis.
"A onda" é baseado no livro homônimo de Morton Rhue, leitura obrigatória na maioria das escolas alemãs. Rhue, por sua vez, se baseou na história verídica ocorrida na Califórnia em 1967, quando o professor Ron Jones tentou explicar o nazismo a seus alunos, igualmente perdendo o controle da situação. A ficção é mais dura que a realidade neste caso, mas a prova de que não é impossível manipular um grupo em nome de um regime fica no ar. E "deixa gente ignorante fascinada".

6 comentários:

  1. Caramba...preciso demais ler esse livro e assistir a esse filme...estou justamente estudando a formação das sociedades de massa e sua relação com o poder. O livro do Elias Canetti, Massa e Poder é sobre isso e fala como o nazifacismo ganha as ruas como cultura de massa na Europa do início do último século. Grande texto e grande dica, Márcio...

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  2. quantas vezes eu ensaiei escrever sobre filme neste blog? sou broxante, mesmo. haha

    vc me deixou cheia de vontade de ver o filme, mais do que já estava!

    acho que a literatura, a arte e a história já mais que provou que a mente do homem em busca do poder e evolução (foda usar a palavra "evolução" pra falar disso, mas...) ainda acaba com este mundo sem precisar de apocalipse. e, na verdade, apesar da falsa impressão de que hoje somos mais "racionais", quanto mais pensamos progredir, mais agimos como retardados.

    desculpae a rebeldia!

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  3. Na verdade, eu penso bem o contrário daquele aluno. Penso que quanto mais achamos que algo torna-se impossível de ocorrer, mais chances há. Quando nos deixamos enganar pela aparente evolução cultural (acho isso engraçado)... podemos estar perto de dar um filme a ela.

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  4. Cheguei a sair de casa duas vezes para ver este filme e optei por outros programas! Indicação de um execelente professor que tive, não poderia deixar de ver, agora com esta postagem, sinto que realmente devo ver o filme.

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  5. Para mim foi uma experiência incrível e impactante. Depois que assistirem, comentem aqui o que acharam!

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  6. eu mesma achei que um regime totalitario como esse não fosse possivel nos dias de hoje... como sou ignorante!
    achei o filme interessante, tanto que não resistir a discutir o tema com o professor Ramon e como estudante acho que é um bom filme para discussão.

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