Infeliz. Sempre infeliz. Olhar fixo para tudo e nunca entender nada do que viam: era ela.
Sempre lhe questionavam incredulamente "você nunca consegue enxergar o que está na sua cara?", e ela nunca via, nunca fitava a vida daquele jeito, do jeito deles, ou como queriam.
Um dia ela abriu um vinho, tomou. Ela adorava mitologia grega. No primeiro gole ela gargalhou, queria se chamar Ares, mas não entendeu o porquê.
Ligou o som. Dançou. A garrafa esvaziou, ela estava bêbada. Pegou um caderno, sentou no chão e escreveu. Escreveu muito, tanto, a noite toda. Achou tudo aquilo que estava no papel lindo e inteligente, mas de uma forma que apenas ela entenderia, ela, aquele ela. Somente ela poderia decifrar. Dormiu.
Acordou tarde, às dez da manhã. A cabeça doía, mas pela primeira vez se sentiu viva, sentiu alguma coisa, era uma sensação de medo de um futuro desgastado. Ela podia tocar suas veias, seu sangue correndo, sua divindade.
Abriu o caderno, mas não entendeu absolutamente nada, a não ser uma frase imperativa "mude seu nome, nosso nome", e ela compreendeu: abriu outra garrafa de vinho e decidiu chamar-se Julia.
Julia nasceu enquanto outra morria. Era nascimento alimentando-se de morte, abandono. Se matou, se criou...
... e agora Julia compreende tudo. Sim, Julia compreende absolutamente tudo, mas o vazio continua vazio, pois há muito tempo o vazio está tão cheio...
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