sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O diálogo surdo

"O grito", de Edvard Munch, 1893


"A única coisa que devemos temer é o próprio medo" - Franklin Roosevelt


O presente texto é o diálogo de um homem com o próprio medo, e a forma como este homem resolveu "exorcizar" este sentimento. A história é fictícia. Qualquer semelhança com a vida real não é coincidência, apenas a constatação de que a vida real tem das suas ironias.

Veio como um sussuro. O frio castigava, se fazia presente e deixava suas marcas de alguma maneira, sendo confundido com as formas mais diversas de sentimento ruim que se pudesse imaginar. Ele não entendia: tudo parecia correr tão bem... como é que as coisas foram sair dos eixos de forma tão abrupta? Em que ponto do planejamento ele havia errado? O que o fizera dar estes passos para trás? 

A resposta, senhores, é que o culpado foi o medo, aquele que não tem idade, que habita os porões da alma. Aquele que, tal qual uma alma penada, arrasta suas correntes para lá e para cá, afastando qualquer foco de sucesso ou glória que possa existir. Aquele que é quase um câncer, que afeta a visão, a audição e a fala. Aquele, que em alguns casos paralisa; em outros faz correr.

E ele estava lá. Na solidão de seu lar, estranho lar. Na cadeira permanecia, e só o medo lhe pertencia. O rosto entre as mãos. Fome, sede? Não, não. Apenas medo e solidão.

Mas eis que, cheio daquele desatino, logrou mudar seu destino, e do medo de vez se livrar! Se ergueu com súbita coragem, afastou determinado aquela imagem, e convicto, desandou a bradar: “Suma-se, que eu não te quero mais, não me trazes prazer nem paz, nada me trazes além de mal estar”.

E foi assim que se deu a surpresa, à beira daquela mesa, a revelação se fez chegar: o medo também tinha medo, também tinha pontos fracos, que era só saber explorar.

E desse jeito, se deixou levantar, e com um soco no ar, saiu pra resolver a questão. Mas antes da saída cruzar, seu recado ele quis deixar, um veredito, uma decisão: “Medo, sei que tu irás voltar. Quando chegares, não penses que me encontrarás com a porta escancarada, num canto a te esperar. Estarei fortemente armado, com meu sexto sentido aguçado, aguardando a hora de te enfrentar!”. E é por isso que aos quatro cantos eu berro, com minha alma de ferro: “Tua hora vai chegar!”

2 comentários:

  1. hihi super legal, divertido e inteligente! x)~

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  2. Eu adorei este texto! O que mais me chamou atenção foi a linguagem, a rima que me parece ter começado de forma despretensiosa.

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