Quando falamos de felicidade ou tentamos resumi-la em algumas palavras, falar de um determinado momento inesquecível. Aquele em que realizamos um sonho, conquistamos algo de que queríamos muito. Geralmente, usamos da maior empolgação possível para traduzí-lo. Dimensionamos muito mais o sentimento do que ele realmente é, alongamos muito mais a felicidade do que ela realmente foi aproveitada. Não que tenhamos nos decepcionado com o que encontramos, ou que nos frustramos com o motivo da felicidade especificamente. Na verdade, nos frustramos mesmo com nossa reação diante da felicidade. Parecemos estar sempre à espera de uma catástrofe em seguida dos bons momentos, porque não nos sentimos dignos de simplesmente sermos felizes. Cultivamos uma expectativa gigantesca em prol dos nossos grandes sonhos, aquilo de que realmente precisamos; mas quando chegamos lá, nos chocamos. Entramos num estado de coma alcóolico emocional, como se nosso coração estivesse parado, congelado e portanto nosso corpo não respondesse às agitações. E então, só quem sabe que estamos felizes é nossa razão, porque esta tem a informação antecipada de que aquele era o objetivo a alcançar.
Mas onde estão os sentimentos, as agitações, a emoção total em viver a felicidade? Não existe. Apenas a vivemos na nossa idealização e após termos vivido, quando o momento "gelo" já passou e nos tornamos novamente sensíveis às nossas percepções emotivas. É uma tendência quase natural se sabotar, se privar do proveito daquela injeção de ânimo que acaba virando mais uma anestesia.
Neste momento ou nos paralisamos e continuamos paralisados até algo externo nos acordar, ou colocamos tudo a perder. Não nos sentindo dignos da felicidade, inventamos motivos estúpidos para colocarmos tudo a perder. Fazemos cenas, ensaiamos uma peça de teatro em que a satisfação seja um consolo. Temos a felicidade em nossas mãos, ela está conosco, mas a acusamos de dezenas de coisas, tentando fazê-la desistir de nós. Será um ato inconsciente de se culpar por ser feliz? Talvez. A felicidade, neste caso, está sendo colocada apenas como uma oportunidade, não como um sentimento linear sentido a vida toda.
Há aquela história de que Paul McCartney, quando estava no Guarujá, num condomínio fechado, e se afastou do hotel para velejar, não sei bem o motivo do afastamento. Acontece que estava cansado, com sede, e bateu na porta de uma vizinha para pedir-lhe água. Não vem ao caso qual foi a reação da tal vizinha. Mas fico tentando imaginar: eu abro a porta da minha casa e dou de cara com o Paul!!!!!!!!!!! Será que eu aproveitaria este momento de felicidade? Ou ficaria paralisada como se nada daquilo estivesse acontecendo, daria a água e ficaria travada e tensa, até ele partir e eu pensar: poderia ter pedido um autógrafo, uma foto, sorrido? Ou ainda, será que eu o trataria mal, fingindo não conhecê-lo, como se condenasse a felicidade por bater à minha porta? Não saber lidar com a felicidade é lidar com a frustração. É por isso que acho que escrevo.
Minha humilde opinião é que nos sabotamos, sei lá, por medo... Cara, to cansada de culpar o medo por tudo. Na verdade muitas vezes, simplesmente, não acreditamos que a felicidade possa ser vivida em instantes.
ResponderExcluirUma colega me disse ‘Lorena, sabe a diferença entre clima e temperatura? Então, felicidade é clima, não é temperatura. Não se está feliz num dia, e triste no outro. Você pode estar contente, em êxtase, alucinada, drogada... mas não quer dizer que esteja feliz. Feliz é uma construção que leva tempo, é um sentimento que está acima de qualquer outro sentido, ou pensamento. Algumas pessoas são felizes, e são felizes sempre. Outras não são felizes, mas, às vezes, se alegram, entretanto, são daquelas que acham que após um momento alegre, com certeza, virá um ruim. ’
Não sei o que eu quis dizer, necessariamente, escrevendo isso... mas é tudo.
Com todo respeito, faço minhas as palavras da colega acima.Sou feliz, mas tenho momentos de tristeza.E nesses momentos estou plenamente lúcida e vejo que não é por causa deles que vou deixar de construir minha felicidade.As vezes me congelo num momento de alegria, mas a mera lembrança dele vai fazer parte da minha felicidade.Parabéns pelo texto..leva a gente a pensar..
ResponderExcluirah..e a foto do Paul ficou super lega...
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