quarta-feira, 11 de março de 2009

Como amavam dois sonhadores

Eles queriam se casar, não por apenas se amarem, mas para provar outro sabor, um sabor de liberdade, de comunhão, de compromisso, de solidão. Eles queriam o limiar entre ser livres e estarem presos. Apesar de que presos não era a melhor definição para eles, eles definiam o futuro no casamento como ‘dividir o que não se divide: nossas particularidades.’. E por isso se casaram. Amavam um ao outro por amarem a mesma coisa: a liberdade.
Ele nunca concordou com o circo que é a cerimônia do casamento, nunca acreditou que estar casado é estar amordaçado, ou ser do outro, ou ser um só. Eram dois dividindo o que fosse possível. Ele nunca quis que ela fosse dele, ou vice e versa. Ele queria que ela vivesse, fosse livre, e partilhasse com ele o que pudesse. Quando resolveram se casar, decidiram ser diferentes, únicos. Fariam o casamento à moda deles.
Não precisavam de festa, de igreja, de padrinho, de amigos, de família... Fazia-se necessário apenas estarem lá, na hora marcada, e dizer 'SIM'. Resolveram não contar a ninguém; se casariam no civil, com quaisquer testemunhas, depois iriam ao cinema, adoravam filmes. E assim tudo aconteceu. Casamento no civil, e lua de mel no cinema com pipoca e refrigerante.
Quando saíram do cinema, o mundo parecia o mesmo: nem mais leve, nem mais pesado; era apenas o mesmo mundo. Eles se olharam, se abraçaram e seguiram em frente. Passaram por uma praça onde um grupo de amigos reunidos cantava, tocava violão e bebia. Resolveram juntar-se a eles; foram singularmente aceitos pelos estranhos. E durante toda aquela noite cantaram, se beijaram, conversaram... libertaram-se. Ele a viu como uma estranha, uma incógnita, sentiu um desejo por sua esposa que jamais experimentara. Ela estava linda, dançava sozinha, iluminada por uma lua encantadoramente medonha. Ela balançava-se como se o mundo fosse apenas ela, e nada mais. Seu corpo mexia em consoante com a música. Seu vestido traçava seu corpo, mostrava curvas que ele jamais vira: Ela era sublime. Levantou-se, foi até ela e pegou sua mão, puxou-a para perto de seu corpo, olhou-a nos olhos e sorriu. Colocou, então, sua mão direita sobre o peito dela. Sentiu os sons dos batimentos do coração. Fechou os olhos e os viu, viu seu peito pulsar, arrebentar a carne... explodir. Os sons de tudo o que era perto sumiu, apenas o silêncio era audível.
Ela o abraçou, passou seus braços pelo pescoço dele, chegou perto de seu ouvido e sussurrou algumas palavras: ‘enquanto você ouvir meu peito pulsar assim, toda e qualquer vez que chegar perto de mim, ainda seremos o que estamos sendo hoje: um sonho de liberdade. Eu o amo, Baby.’. Os olhos dele encheram de lágrimas, ele a pegou em seus braços e se deitaram na grama. Por um momento, a Terra girou por eles, pela força deles.
O homem que tocava violão, e estava singularmente bêbado, chegou perto dos dois e lhes entregou duas fitas, duas fitas vermelhas. Depois saiu. Eles se entreolharam, e riram-se... gargalharam. Ela então reparou no que carregavam em suas mãos, as alianças. Ela a tirou de seu dedo e disse: ‘se este for o símbolo de um casamento que fracassa, eu não as quero conosco. O quero livre, quero que me ame como quiser, e quando puder. Não carregaremos isto conosco. Sejamos como estas fitas vermelhas: leves e ardentes. ’. E assim eles colocaram as duas alianças numa caixinha, e a entregaram ao homem que lhes deram as fitas. E estas eles lançaram sobre um rio, que corria sob uma ponte. E ali, naquele instante, a comunhão se fizera. Eles conheceram o peso de amar, o peso do amor: apenas uma fita que voa. E enquanto se manterem fiéis às diferenças, a vida será uma dança sentimental, onde todo o som possível é o grito de desejo de um corpo que ama livre da prisão e amante do desconhecido.

9 comentários:

  1. Nossa Ló isso sim é amor verdadeiro e td que todos precisamos e procuramos,lindo mesmo...Espero que as pessoas entendam que amor e liberdade andam juntos...

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  2. Ok, Lorena, você conseguiu. Me emocionou! Parabéns, é uma bela estreia como membro do blog que tanto nos orgulha. Aproveito o comentário para comunicar as pessoas que nos visitam que a Lorena me substituirá durante o período em que me afastarei deste espaço. O motivo não poderia ser mais nobre e significativo: meu casamento. A Lorena soube bem representar o verdadeiro sentido disso tudo. Obrigado!

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  3. Eu proponho a substituição em definitivo do Marcio pela Lorena.

    Sei que depois do casamento o Tio da Caneca vai voltar cheio de historinhas picantes, mas Lorena matou a pau aqui...

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  4. A Lorena é uma pessoa substituta! hahahaha

    (entendeu, né, beibi?)

    Ó, adorei o texto! O Márcio mecere!

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  5. Eugenio, quem foi que disse que você tem o direito de propor alguma coisa? E não faça pré-julgamentos sobre meus textos futuros! Hunf!

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  6. hahahahahaha!

    Obrigada pela confiança, Eugenio...

    Mas queremos textos futuros do Márcio...hahaha


    'tendi', Baby... >)

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  7. Poxa Lo, tô impressionada! rsrs

    De maneira tão doce vc escreveu como amor e liberdade podem caminhar juntos!

    Lindo texto!

    Adorei!

    Parabéns!

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  8. Lo e teu cunho filosófico, muito bom Lo, parabéns ...


    Jefferson

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