quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
.enquanto estás fora de mim...
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
As crônicas de ninguém, volume 4
Nosso ciclo se completa com o texto da .má oliveira. Foi uma experiência prazerosa. Semana que vem, faço um balanço de tudo, e provavelmente minha versão da história. Vamos ao volume 4:Menos um tijolo na parede
por .má oliveira
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
As crônicas de ninguém, volume 3
Chegamos ao terceiro texto das "Crônicas de ninguém", desta vez escrita pela companheira Lorena Cicari. Aliás, foi ela quem sugeriu o nome desta série. Segue:Quantas ondas pra se afogar?
Por Lorena Cicari
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
As crônicas de ninguém - volume 2
Continuando a série iniciada na semana anterior, aqui está a versão criada pelo companheiro Ramon.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
As crônicas de ninguém - Volume 1
Como anunciado no post anterior, começa agora nossa experiência colaborativa. Para iniciar a série, aqui está o primeiro texto, escrito pela convidada Luana Bernardes. Começamos com o pé direito.
Conto de Principiante
por Luana Bernardes*
- Comece de novo.
- Mas por quê? Pra mim tava tudo certo!
Links da Autora:*Luana Bernardes formou-se em História pela UEM em 2009, é professora do Ensino Fundamental e pós graduanda em Psicopedagogia pela mesma universidade. Carrega muitos vícios que são inerentes à sua personalidade entre eles a cinefilia (com o qual gasta boa parte do seu salário), a cafeína e a música, do clássico ao velho rock, adora séries de TV e não dispensa um bom sitcom. Também nutre carinho especial por crianças, cachorros, coisas confortáveis e coloridas como pijamas e meias...ah sim, dormir é sem dúvidas seu esporte predileto. Está aprendendo a tocar violão e sonha ser a feliz proprietária de uma escola, um cineclube ou de um canil - ou então dos três...
Quinto Take
Empty Mind
Rascunhando Textos
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
As crônicas de ninguém
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
A liberdade de um parágrafo só
Após um grande período sem a presença de convidados, temos um novo texto de alguém de fora do nosso coletivo. A amiga Madý assina este novo texto, feito sob encomenda para nossa Marmita Filosófica. E nossas novidades não se encerram por aqui. Para os próximos dias, aguardem mais um novo material no nosso coletivo.
*Madý é estudante de filosofia, produtora de conteúdo e aspirante à baterista nas horas vagas. Mantém o blog Desabrido, um TCC, um projeto de mestrado, o projeto de uma graduação e, quando sobra tempo, uma vida altamente mais ou menos.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Até amanhã...
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
O outro eu
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Joana
com tons de cinza descolorindo seu coração,
incendiado pela fogueira:
a marca dura e fria de sua condenação.
sua bruxaria:
ingenuidade acreditar em um mundo superior?
iludida por um heroismo
facilmente corrompido em pecado.
sufocou sentimentos,
quando não mais soube omitir
desintegrou seu medo,
transformou-o em coragem e lutou.
derramou sangue,
por amor
e fé.
quanto vale a honra
daqueles que não compreendem
as marcas que irão deixar?
não há arrependimentos pra quem
soube que errou pelos motivos certos.
a consequência inevitável de sua lembrança:
- escura, sombria, medonha, triste.
- má, cruel, melancólica,
e agora, morta pelas armas de sua esperança!
domingo, 8 de agosto de 2010
"É que gente, gente nasceu pra querer."
E era um caminho tão difícil. Não saber se queria seguir pelas estradas que pensava serem tão boas, que pudessem abrir experiências que eram ocultadas, na normalidade do dia-a-dia, àqueles que são comuns.
Ela se perguntava “qual o segredo da vida?”, mas resposta alguma fora ouvida. Naquele momento sentiu uma solidão inexplicável. Se haviam outros seres no universo? Por um frágil momento ela sentiu apenas a própria existência, não tão existente.
O vento contra as plantas, as grandes plantas sem flores de seu jardim, assustava um cachorro que caminhava perdido. Corria de um lado para o outro, procurando abrigo nas pernas, nos braços... ou escondendo-se atrás dos vasos. Mas nenhum abrigo fora revelado suficiente: o homem o enxotava, e o vaso abrigava alguma planta... que o assustava. Assim, ela sentia-se quase sempre: como um capricho singular em algum momento paralisado pela preguiça da vida em tecer mais alguma teia. Talvez estivessem ocupados com outras pessoas destinadas a vivências interessantes.
Talvez ela simplesmente não fosse suficiente para que alguém lhe escolhesse uma linha, talvez ela não valesse o tempo de um trago.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
"Eu ainda ando pelas mesmas ruas"
quarta-feira, 14 de julho de 2010
A segunda divisão
sexta-feira, 25 de junho de 2010
E o cavalo não 'flosofa' mais...
Dos meus colegas marmiteiros eu sou provavelmente o menos qualificado para falar de futebol. Admito que a cada ano que passa é um esporte que me emociona menos. Mas pra não incidir em uma tal heresia em uma época que só se fala disso não vou tecer muitas considerações acerca do esporte erroneamente alcunhado de bretão. Erroneamente porque as origens remotas do futebol não têm nada da afetação aristocrática inglesa. Em verdade os ingleses criaram as regras do futebol moderno, mas na antiga China um esporte parecido já era praticado como treino militar. Também usavam somente os pés e existiam duas traves como meta. A diferença é que ao invés de bola chutavam cabeças de inimigos derrotados. Violência é algo inerente ao futebol, pensar o contrário é esquecer a catarse necessária que o esporte representa em nome de um cinismo disfarçado de predileção ao tal "futebol arte". Até acho o Rugby um esporte mais trágico que o futebol. Trágico aqui num sentido próximo ao que os gregos conferiam ao termo. Há um conflito inerente ao Rugby. É mais atávico que o futebol porque nele a violência não só é permitida como incentivada, mas é mais progressista que o futebol pois permite o uso do polegar opositor, essa maravilha que a mamãe natureza demorou milhões de anos para nos dar. Poooooiiiissss bem. Não é pra contar essas piadas infames que estou aqui. Na verdade é pra falar de algo mais infame ainda. A falta de maturidade existencial no discurso campeão da nossa seleção. Imaturidade que fica clara na forma que Dunga dispersa frases prontas de um autor de auto-ajuda, Augusto Cury. Um palavriado vazio e bobo, que assim como orações de quermesse só motivam ou confortam os fracos e os incapazes. É besteira do nível de: 'trate a todos como protagonistas no teatro da vida', ou o 'destino é uma questão de escolha'. Ainda que isso só reafirme minha posição de que pessoas envolvidas com futebol deveriam, por uma questão de dignidade, se omitir de dar entrevistas, já que é honroso evitar provocar tamanha vergonha alheia, há algo mais podre nisso tudo. Primeiro porque Dunga abandona o seu costumeiro e arredio discurso sobre esforço, resultado, superação e blablablas, pra disparar esse mingau azedo com pitadas de exoterismo psiquiátrico barato. E, segundo, porque isso cola! Não que o Cury vá vender mais livros por conta disso ou algo assim. O problema é que se o Brasil vence a Copa essa 'filosofia' de comadres velhas será vista como a chave que faltava para destrancar a rebimboca da parafuseta de nossa ordem e progresso. E dá-lhe mais cinismo e mais bunda molismo numa país que decididamente já tem mais do que o suficiente disso. Não se trata aqui de superestimar os ecos do que Dunga diz ou faz. Não é segredo que o povo brasileiro projeta em seu futebol suas melhores qualidades, e pretende ver nesse futebol um espelho ampliado de suas potencialidades, ainda que seja ele, o povo brasileiro, que tenha que se adaptar à imagem do espelho, e não o contrário. Claro que ainda resistem resquícios do velho Dunga, rabugento e mau humorado, bagual, chucro, que não acha que o destino é mera escolha, mas uma construção azeitada com suor e raça. Confesso que preferia esse Dunga cavalão, sério e carrancudo. Tinha ali uma quase sapiência, como a do cavalo que 'flosofava' do Guimarães Rosa, e que não perdia seu tempo com relinches de auto-ajuda, que mais que nossa insegurança, revelam nossa imaturidade.
sábado, 19 de junho de 2010
Puta excesso de sacanagem
Nem toda beleza é visível apenas nessa camada externa que todos veem com tanta facilidade. Existem os belos homens que são simplesmente homens belos; mas existem outros homens que são capazes de mexer com algum sentimento tão desmedido em nós, que não nos vemos sem eles, sem seus olhos, suas mãos, suas personagens, vozes e palavras. Homens que nos deram tanto e, por força do silêncio, nada nunca pediram, mas aos quais daríamos tudo o que pudéssemos. Homens que nos fazem crer que somos muito mais do que forma, somos conteúdo. Somos o vinho que é uma benção, não por ser vinho, mas por ser o que liberta quem o bebe, que, vagarosamente, pode saborear, como uma dádiva à mente, da escolha, da criação da imaginação. Belezas não óbvias - que para nós são até óbvias demais - pra se encaixarem só no conceito comum de beleza. O além. O mistério belo e incerto do mesmo belo. Enxergar estas entrelinhas da própria beleza, contemplar o significado que só os olhos formados pela cultura atual não conseguem distinguir, forçar este exercício é conviver com a arte da realidade criada por si mesmo. Viver a liberdade de estabelecer os próprios conceitos .
Johnny Depp
quinta-feira, 17 de junho de 2010
"Seja no que despertou..."
Cá estou, perdida no tempo. Tempo certo, o melhor da vida, dizem. A hora exata para eu poder Ser, para eu me fazer... Refazer-se?! Não há tempo, dizem.
Ele disse que não existe sem ela (ou ele), eu sim. Não me vejo mais, não sei de qual delas (de mim) escreve agora. Será a que tu amas, ou será a que tu odeias?! Dói, corrói teu peito saber que eu posso sair, naquele dia em que me preparou uma surpresa, e não voltar jamais. Nunca mais. Nunca. Nunca. De tanto ardor, nunca mais existir. Acabar para existir. Acho que alguém cantou algo assim. Deixar de ser para se tornar. Tornar algo para nunca mais ter de ser nada. Nada! Sempre o nada. Ser nada. Fazer nada. Prometer nada. Ter nada... Tudo. Todo..o nada. Disseram que só uma existência pode ser completa e ter fim e começo e meio em si mesma, o Nada. O nada em si é a única forma de ser total. À procura de ser completo é a busca por nada, nada ser.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
O abutre e a esposa morta
Ele jogava as chaves para o alto e pegava no ar evitando olhar pra elas. Cantarolava mentalmente uma canção no ritmo monótono do bater das chaves, um 4x4 perfeitamente duro e chato. Seus olhos, fugindo das chaves, percorriam o quarto e o corpo nu à sua frente. Mesmo azulada ela continuava linda.Desejava-a nesse momento como da primeira vez que a viu, e mesmo com os buracos de bala molhando de sangue a cama desarrumada ela continuava sendo a mulher de sua vida, tudo o que sempre quis. Tentava se concentrar nas lembranças. Da primeira vez que conversaram, de cozinhar pra ela, trocar pneu na chuva. Lembrava da primeira noite de sexo, da falta de jeito misturada com um tesão louco, uma vontade de canibalizar aquele corpo, de fazê-lo em pedaços com os dentes e unhas, enquanto gozava gritando, alto, salivar, blasfêmo. Amava os cabelos dela, e a forma que desenhavam os ombros, amava seu pescoço e suas pernas, seu púbis e todos os segredos que enxergava naquele corpo e que recitava sorrindo freneticamente ao se masturbar no chuveiro. Quando se casaram ela estava mais linda que nunca, e tudo nela convidava ao crime e ao abuso e tudo depois daquele dia manteve aquele cheiro e aquela cor, algo meio pecaminoso, como uma planta carnívora ou o dorso nu do deus morto na cruz. Seis anos depois seu desejo por ela estava cada vez maior, como um vício mórbido, inconfessável, cultivado no morno do cobertor, nos cantos de parede. Ficava ao seu lado, olhando seu dorso de mover durante o sono, vi-a no escuro absoluto, com olhos griz de abutre. No sétimo aniversário foram a um motel. Fizeram aquele amor canibal da primeira vez. Gozou na barriga dela enquanto ela sorria de olhos fechados. Ela virou de bruços, limpando a porra no lençol e se aninhando para dormir. Ele tomou um banho e se vestiu, abriu a pasta e pegou a arma, comprada na praça sete por 150 reais. Dois tiros nas costas, ela não gemeu nem abriu os olhos. Morta. Agora era esperar o desejo ir embora com o sangue escorrendo, e com o tilintar monótono das chaves na palma da mão.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Arco-íris
Ela vinha caminhando num balanço cambaleante e despretensioso, cabelos jogados. Parecia dançar ofuscando o brilho do sol.
Trazia junto a ela um dia nublado, cinza. Um tempo diferente e o colorido só existia na fita amarrada em seu pulso nas cores de um arco-íris.
Ela vinha sorrindo para o horizonte e esclarecia a quem a visse sua incerteza e despreocupação quanto ao destino.
Sua doce perfeição.
Enquanto vinha, sem deixar de caminhar, olhou e sorriu me dizendo: - vem comigo?
No olhar trazia uma mensagem: ela foi a lugares que nunca estive.
Como eu poderia acompanhá-la? Diante da liberdade que ela inocentemente me obrigava a ver mesmo não dizendo com palavras. Liberdade que mostrou-me ser possível. Diante da possibilidade que eu não suportava do poder de escolha. Ah, a pressão da escolha!
Como eu poderia? Diante de todos os meus medos, meus preconceitos, minha mesquinharia. Minha covardia!
Ela sumiu na escuridão de uma chuva que se anunciava. Distante eu só via... a fita, as cores do arco-íris.
Maldito arco-íris!
terça-feira, 18 de maio de 2010
A memória que esquecemos
E o scanner que captura nossas dúvidas?
Cadê o gravador de nossas lástimas?
Cadê o filtro que dilui nossas culpas?
Em que tipo de papel foi escrita nossa história?
Quantos megabytes tem nosso disco de memória?
Qual é o sistema que processa nossos dados?
Em que programa eles foram formatados?
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Julgamento final
- Sim, diga logo. Você está muito machucado, sangrando, precisa de ajuda.
- Eu sei que sua preocupação real não é esta. Não pode fazer nada por mim se não tiver como voltar, eu sei. Não sei como conviveremos com isso. Sempre disse que você deveria crescer e parar um pouco de avançar limites que desconhece. Por que diabos pulou de paraquedas em cima da casa de madeira se sabia que eu estava aqui?
- Não foi planejado, você sabe. Me diga logo.
- Estou sem alternativas, então ouça: trará ajuda e como bem sabe, não há como esconder o que ocorreu. Mas se trata de minha vida e vou tentar defendê-lo como puder. Gire aquela manivela até o fim, vá até aquele outro lado e quando a estante de livros se afastar, empurre.
- Tudo bem. Volto em instantes. Vai ficar bem?
- Se eu não tivesse soterrado por escombros por sua culpa, eu poderia aguentar melhor. Vá logo.
Ao passar pela porta, sentiu que o prédio balançara e junto um peso na consciência. Reconhecia toda a responsabilidade pela tragédia e sabia que precisava ajudar o companheiro, mas sentia medo. Nunca esteve acostumado a pensar com seriedade e agora a agonia do que podia acontecer o impossibilitava de fazer o óbvio. Estavam igualmente presos, mas só um tinha a escolha. Um homem soterrado nas madeiras de uma casa velha, e o outro soterrado no pânico ingênuo de uma alma jovem demais.
Ninguém sabe se ele voltou. Ninguém sabe se salvou. Ninguém sabe...
terça-feira, 4 de maio de 2010
"Joga pedra na Geni, joga merda na Geni... maldita Geni."
- Fê, é o Ricardo. Vamos sair hoje? Tem uma festa p’ra gente ir. Open bar.
- Ricardoooo. Claro. Estou mesmo sem nada para fazer.
Sim, Ricardo estava se tornando um bom amigo. Ele sabia que eu o tinha em grande estima, como amigo. Eu não era muito de namorar, não gostava. Mas sempre adorei dançar e beber. Não via motivos óbvios para recusar um convite de um amigo, para beber e dançar, então fui com ele a tal festa. Confesso, até, que o achei um tanto quanto solícito demais, mas pensei que fosse pela distância (não nos víamos há certo tempo. Ele morava numa cidade diferente da minha). Quando chegamos à festa, sentamos numa mesinha e começamos a beber. Disputávamos doses, quem tomava mais. Sempre fui uma excelente consumidora de doses. Era uma disputa acirrada. Ficamos nas tequilas. Entre vira-viras e conversas, a gente dançava. Era como ‘limpar’ o corpo para mais uma rodada. Foi muito divertido. Dançamos muito, de forma sensual. Foi engraçado porque resolvemos encenar, dançando, toda aquela sensualidade que existe quando ‘Antônio Banderas e Salma Hayek’ fazem um par romântico. Era uma cena de filme dançante (sim, sempre gostei de filmes. E sempre tive a mania de dançar imitando algum casal ou alguma cena. Já dancei até imitando a cena da ‘banheira’ do filme ‘psicose’.). A noite foi passando, as doses foram entrando no corpo e embaraçando os nossos sentidos. Em uma determinada hora, eu já estava cansada. Não estava bêbada, estava apenas tonta. Mas, depois de dançar a noite toda era justo eu estar cansada. Pedi ao Ricardo para que fôssemos embora. Quando estávamos saindo, um amigo dele apareceu e pediu carona. Fomos os três embora.
Fui no banco de trás do carro, estava com muito sono. Pedi ao Ricardo, então, que me acordassem quando chegassem à minha casa. Fui acordada, mas não em casa. Não sabia onde estava. Eles me arrastaram pra dentro da casa, e trancaram as portas. Eu desesperei, um pouco, ainda confiava numa explicação lógica por parte do meu amigo. Mas ele não se explicou. Aproximou-se de mim e disse “fiquei com vontade de foder com você. Você me deixou louco.”. Eu fiquei espantada, disse a ele que não queria. Que eu nunca dei a entender que teria algo com ele. E foi ai que o outro cara aparece e disse “não será só com ele que você foderá hoje. Vamos nos amar, benzinho.”. Não senti medo. Senti nojo. Minha alma estava em pedaços, carregada de ódio. Tentei encontrar uma saída, mas o Ricardo veio e me agarrou, me segurou enquanto seu amigo arrancava minha roupa e dizia toda e qualquer obscenidade para ‘me agradar’. Sua língua no meu corpo, suas mãos rasgando minha dignidade, ferindo minha existência. Me carregaram pra cama e prenderam minhas mãos na cabeceira da cama. Um e depois o outro; e depois o um; e depois o outro. Violaram minha boca, meus olhos, minha alma. Sujaram meu corpo e macularam minha humanidade. Gozaram em mim, e me fizeram sangrar. A dor física era imensa. Não havia delicadeza, claro. Eu era uma boneca onde eles metiam seus paus até que se esgotassem os espaços, e forçavam mais um pouco. Um e depois o outro; e depois o um. Quando enjoaram da boceta me amarraram de costas. Eu nunca tinha feito sexo anal. Foi uma dor lancinante. Um e depois o outro; e depois o um e o outro. Ouvi um deles dizer (nessa hora que eu já não sabia mais qual a voz de qual estuprador) “essa vadia tá sangrando por todos os lados. Melhor a gente parar. Já gozei demais nessa puta.”. E me vestiram. Eu estava imóvel. Pegaram uma garrafa de vodka e derramaram em mim “cu de bêbada não tem dono mesmo. Vão achar que ela fez por onde”.
Me deixaram na porta de casa, jogada. De manhã, alguém me acordou. O alguém me conhecia, chamaram meus pais. Contei a história e minha mãe disse “sim, cu de bêbado não tem dono. Se mulher bebe e dança desse jeito, ta pedindo pra ser estuprada sim. Você não vai fazer nada. Melhor para você é ficar quieta. Ninguém vai acreditar e vão achar que você pegou AIDS e é vagabunda. Agora toma conta de si mesma. E fica na sua. Caso contrário vai arrumar mais problema para você. Você sabe que os homens são assim mesmo. Eles acham que têm direito a tudo. Ainda mais quando a mulher facilita. Ninguém vai acreditar em você. Vão achar que você é mais uma vadiazinha que fica fazendo manha com homem, afinal de contas, o Ricardo era íntimo seu. E com essa sua mania de ‘independência feminina, dirão que você quis fazer esse tal de menage. Por isso eu digo: arruma um marido e casa logo. Assim você estará protegida.”.
A família em peso nos Mojo Singles
Ramon Mapa também teve seu "Until it sleeps", do Metallica, publicado no site. Leia aqui.
Aproveitando que está no site, se ainda não conferiu, confira "Balada de Agosto", de Fagner e Zeca Baleiro, por Lorena Cicari, aqui.
E também, o último deste que vos escreve: "For no one", dos Beatles, por Márcio Viana, aqui.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
O silêncio ensurdecedor
Seu Vieira era o encarregado da produção. Ele tinha um caderninho, em que anotava todas as infrações dos empregados. Seu Vieira nunca dava advertência, verbal ou escrita. Mas anotava no caderninho. Um dia, alguém poderia pegar o caderninho dele e escrever a história daquela fábrica.
Em casa era a mesma coisa. Josué discutia com a Lavínia, morena bonita que ele conheceu na quermesse da cidade e em menos de um mês já estava na vida dele, como esposa e empregada. Lavínia era uma lutadora, sem saber. As olheiras tiravam um pouco da cara de menina, dezenove anos ainda. E era sempre assim. Josué chegava, perguntava da janta, reclamava. Dizia que ela não fazia nada direito. E ela se calava. Baixava os olhos e nada dizia. Isso para ele era uma vitória. “Quem cala, consente”, não era assim o ditado? Durante o dia, enquanto Josué trabalhava, Lavínia chorava. Um pouco antes de ele chegar, lavava o rosto e fingia normalidade.
E Josué continuava sentindo prazer em silenciar as pessoas. No bar, ele impunha sua opinião. Ferrenho defensor do regime militar, ele achava que só uma nova ditadura poderia consertar o país. E ai de quem discordasse! Ele levantava o tom de voz, falava até se cansarem de discutir, saía do bar na hora de fechar, com um ar vitorioso.
O que ele não sabia é que o silêncio das pessoas não era uma admissão de derrota. Era desistência.
Na segunda-feira, Josué chegou ao trabalho e foi procurar o seu Vieira, pra saber sobre o serviço: “E aí, seu Vieira, o que nós vamos fazer hoje?”. “Nada, Josué”, disse o encarregado, para surpresa do falador. “Hoje não tenho nada pra você. Mas fica aí, pode ser que apareça uma tarefa”. E o dia todo foi assim. Josué passeava por entre as máquinas, conversava com os outros funcionários, perguntava se precisavam de ajuda. “Não, Josué”, diziam. “Tá tudo certo, não precisa ajudar, não”. E ele não entendia: por que estava ali se não precisavam dele? Tentava engatar uma conversa com alguém, as pessoas se esquivavam, alegavam excesso de trabalho. Ele não entendia: se todo mundo tinha trabalho demais, por que ele estava parado?
No fim de tarde, passou no bar. Fechado. “Que estranho... o seu Pedro nunca fecha tão cedo... será que aconteceu alguma coisa?”. Resolveu ir para casa. “Tomara que a Lavínia já tenha feito a janta. Tô com fome”.
Ao entrar, estranhou a ausência do som do rádio, que a moça sempre deixava ligado, e que ele sempre desligava com um xingamento, uma reclamação pelo barulho. Chamou-a pelo nome. Nada. Olhou por todos os cantos. Ninguém. Ah, mas ela ia ver quando chegasse. Onde já se viu, sair assim sem avisar? Mas ela não chegava. Foi passando a noite, e nada. Amanhã ela ia ver, ia buscá-la casa da mãe, a puxaria pelos cabelos. E dormiu, no sofá mesmo, cansado de esperar e cansado do silêncio que imperava. Não tinha ninguém com quem reclamar.
Acordou atrasado, saiu correndo para o trabalho, ainda pensando na mulher, sem saber o que deu nela pra desaparecer assim. Foi recebido na porta, não pelo seu Vieira, e sim pelo Lima, do Pessoal. “Josué, venha comigo até o escritório”.
Lá, o Lima entregou um papel a ele. “Não precisamos mais do seu serviço”, disse o funcionário. No papel constava “demissão sem justa causa”. Josué pensou em perguntar a razão, mas achou melhor ficar calado. Eles não precisavam explicar.
Foi para casa. Tudo o que ele queria agora era encontrar com a doce Lavínia, abraçá-la e dizer tudo o que sentia. Ligou o radinho dela, mas faltava algo ali. Aquelas vozes não eram as mesmas sem ela. Ele sabia que ela não ia mais voltar. Telefonou para a casa da mãe dela, mas ela não estava lá. A mãe não deixou claro se sabia ou não do paradeiro da filha. “Você fala demais, Josué!”, disse a velha. Ele desligou o telefone sem se despedir, para não ter que concordar com a sogra.
Meses se passaram. Josué passava a maior parte do tempo em casa. O bar do seu Pedro nunca mais abriu, e ele nunca soube por que. Um bico aqui e outro ali, geralmente um trabalho pesado, bruto. Ele mesmo impunha a si próprio um ritmo acelerado. Não conversava com ninguém, nem mesmo consigo próprio. Na hora do almoço, se afastava, mal comia. Não puxava papo com quem quer que fosse. Monossilábico, fazia o que mandavam e pronto.
E foi na volta de um desses trabalhos que se deu o encontro. Ela vinha pela calçada, com um vestido chique, maquiagem, cabelo arrumado. Bem diferente, sem as olheiras que tinha quando moravam juntos. Ele correu até bem perto dela, quis abraçá-la, beijá-la e perguntar por que ela fugiu. Não sabia se sorria ou se chorava, se brigava com ela ou se ajoelhava aos seus pés. Queria contar a ela tudo o que passou neste tempo em que ficou longe dela, pedir que ela voltasse. Ela olhou para ele e disse algumas coisas, mas sua voz não emitia som algum. Ele não conseguia ouvi-la, e se desesperava. E foi aí que ele percebeu. O silêncio, que ele tanto buscava nas pessoas quando queria impor sua opinião, agora o acompanhava definitivamente. Ela, notando o insucesso em argumentar, tomou seu rumo. Ele foi para casa, desolado. Ligou o rádio e os sons saíram normalmente. O mesmo ocorria com a TV. Não estava surdo, portanto. Então, por que não ouvira o que ela dizia? Ligou para a casa da sogra. O telefone mudo. Uma passada no antigo trabalho, a pretexto de rever os companheiros. Os ex-colegas o trataram com cordialidade, mas ele, transtornado, não ouvia nada do que diziam. O bar continuava fechado, mas ele encontrou na rua um dos seus debatedores dos tempos em que era empolgado com as conversas políticas. O homem, aparentemente transtornado, parecia berrar. Mas ele não ouvia nada. Desviou do homem furioso, foi embora. Achou que era hora de tomar um outro rumo. Procurou trabalho na construção civil, logo encontrou. Começou como ajudante, mas logo deu um jeito de arranjar uma vaga como operador de britadeira. E não reclamou, mesmo exposto ao barulho de cerca de 120 decibéis. Tudo para escapar do silêncio, o qual não podia mais suportar.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Mulher na chuva
Recebi as fotos. Todas em branco e preto. Cenas cotidianas, alguns sorrisos, algumas olheiras, ônibus, cães e pedestres. Senti vontade de sair e descer a rua procurando os rostos familiares estampados no papel, mas não saí. Sentei na janela e acompanhei um gato pelo muro vizinho, olhei pro céu e acreditei ter visto uma pipa. Claro que não era uma pipa, não existem mais pipas. Lá embaixo sorri pro orelhão em que a vi pela primeira vez, tentando se esconder da chuva. Chamei-a pra subir. Acho que só veio pra proteger o saco de pão que trazia. Não adiantou muito. Rimos dos pães encharcados e ela secou o cabelo no meu banheiro. Trabalhávamos perto uma da outra e descobrimos que tomávamos o mesmo ônibus todos os dias. Seguimos a rotina até aceitar que estávamos apaixonadas e transformar a paixão em rotina. Juro que não foi difícil, nem ficar, nem transar, nem assumir. Nem ligar pra mãe e dizer que namorava uma menina. Foi fácil, fácil até demais. Ela adorava fotografia e adorava cinema. Eu não. Não que não gostasse, mas não me completava como a ela. Tirava fotos sempre, e sempre me mandava. As melhores revelava e me mandava por correio, nunca entregou pessoalmente, sentia vergonha, dizia ela. Decorei a casa toda com o que me mandava. Mas nunca comentava as fotos com ela, ela não gostava. Hoje chegou as últimas que enviara. De volta do correio me ligou chorando e disse que estava tudo bem. Mas não veio pro vinho, pro filme combinado, não trouxe o pão do dia seguinte. Ninguém sabe dela. E não adianta procurá-la nas fotos em branco e preto. Resta esperar. Talvez se chover o orelhão a traga de volta, com cabelos molhados e pães perdidos...pra mim...
sexta-feira, 2 de abril de 2010
A história das coisas
terça-feira, 16 de março de 2010
"O centro de uma mesma e estranha mesa."
Eu segui, durante todo este meu tempo de escolha de personagem, uma que eu pudesse moldar às minhas necessidades. Fui fria e intolerante; apaixonada, mas indiferente. Fiz das minhas lágrimas a única honestidade: ninguém as viu rolar, ninguém abafou o peito.
Minha personagem sempre fez da intimidade o meio para se manter só, para saber viver do lado de fora, “sozinho no tempo”.
Alguma vez alguém quis enxergar como era o meu mundo, mas ninguém mais tempo para ‘neverland’; o alguém se cansou da espera, o alguém era ‘amor senso comum’... E eu sou amor de brincadeira, um amor para ensinar e aprender a ser livre, a ser leve. Uma paixão intensa e profunda que só se permiti pequenas doses.
Da necessidade em ser discreto, para ser particular. Do amor que não precisa de um nome, sem círculo... Uma simplicidade sem endereço, sem carta, sem destinatário.
E eu não sou daqui, nunca fui de lugar nenhum;
Não sou minha e nem sou sua. Do acaso pertenço, quando me agrada;
Não me recluso num canto por pensar em alguém que conheço. Deixo-me jogada num
canto, por chorar amor à pessoa que ainda – e, talvez, nunca conheça- não sei quem é;
Não me faço fraca, para que possas embalar-me em teus braços: não preciso;
Não quero ser moderna ou tradicional;
Não preciso provar meu caráter, nem demonstrar minha fortaleza;
Choro quando choro, por mim e para mim. Não ouvirás minhas lágrimas, não saberás o
motivo de molharem meu rosto;
Não conhecerás meu sorriso, ou o porquê das minhas risadas. Me olhará sempre
procurando explicação, e se contentará com os olhos infantis e um sorriso jocoso.
- Então para quem são estes "nãos"?
- Para qualquer um.
terça-feira, 2 de março de 2010
Um tributo ao olhar
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Um adeus qualquer
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
O quarto círculo...
Da rotina herdei cascas impermeáveis às emoções. Solidarizar, para mim, não passa de um performativo, de um atuar, um quase-fingir (sim, porque atuar é diferente de fingir). Essa coisa maquinal, incrivelmente leve e destrutiva da repetição, da falta de sentido, tatuou em mim a mais perfeita das indiferenças. Seja escuro ou solar, dor ou conforto, a mim é insípido como promessas de santos, artigos científicos ou a "verdade" sempre imunda dos juristas. Entre juristas e santos o mundo foi reduzido a um marasmo asilar, com o cheiro já familiar dos banheiros de rodoviária. E aqui estou, pingando câncer e alma enquanto tropeço por essas descontruções ruidosas que insistimos em chamar de dias. Se não tivesse herdado da rotina essa minha indiferença, talvez me importasse com isso.
...preciso ir...hora de trabalhar...
Sobre entrelinhas, reticências e outros quetais
*Este texto nasceu inspirado em um outro, chamado "reticências", escrito pela Maísa há um tempo atrás. Leiam aqui.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
a conclusão é sua
Incoerente que qualquer pessoa diz em algum momento da vida odiar falsidade, mas que o mundo ainda seja tão consumido por ela. Incoerente que os mesmos que compram os livros de auto-ajuda em busca do alcance de uma felicidade enlatada também comprem as revistas de beleza e comportamento. Me convence pela distorção de valores tão comum no ser humano atual e sua insatisfação pessoal que tende a cada vez mais piorar, mas ainda assim acho importante questionar.