sábado, 10 de janeiro de 2009

Fotografando o mundo com a alma

Companheiros e companheiras do meu blog coletivo querido,

Claro que as opiniões expressas por esta redatora que vos fala são de total responsabilidade dela mesma! O que não garante nada a ninguém, já que responsabilidade não é o meu forte. Hoje após o almoço, fui ao mercado com meu pai e numa observação destas estonteantes, fiz alguns questionamentos que ainda não consegui me responder. No caminho, passamos por um semáforo com crianças que há muito tempo não sabem o que é banho, provavelmente não frequentam a escola e estavam ali, 'trabalhando'. Umas pedindo esmolas, outras vendendo balinhas. Sinceramente, nunca sei o que fazer quando vivo situações assim. Porque o meu lado mulherzinha quer ajudar por pena daquela criança estar com fome e outro lado sabe que isso só piora as coisas. O famoso tapar o sol com a peneira, que, se não é um problema humano, com certeza é um defeito bruto do brasileiro. Por dor ou por amor, ajudei. Mas, vem cá, até quando eu serei só a menina branca que 'ajuda' o moleque das ruas que não tem o que comer? Longe de querer ser politicamente correta, clichê ou repetitiva, porque estes assuntos estão todos os dias nos principais jornais, mas não dá pra ignorar que este mundo feio e triste aí é nosso. E eu perguntei pro meu pai quando avistamos a possível mãe de um dos moleques xingando-o e gritando com ele como se ele fosse um escravo: "onde é que nós estamos indo? Onde é que estamos querendo chegar?" Não é do capitalismo, nem do governo que quero falar. Quero falar de nós. Discordo quando dizem que é hipocrisia ajudar o maltrapilho da esquina. Eu ajudo porque tenho pena e porque, admito minha enorme fraqueza e ignorância de não saber mais o que posso fazer. Fico apavorada quando me dou conta de que, quando ajudo uma pessoa, outras várias estão nascendo naquele momento e terão o mesmo destino, senão pior que aqueles que cruzaram meu caminho aquele dia. No mercado, alguns enchem o carrinho de sobrevivência, outros de prazeres. E eu estou me sentindo um lixo humano e pensando: - o que será que aquelas crianças sonham? Ver um eclipse? Tomar um milk-shake com uma garota legal feito eu? Ir pra escola e ter o que comer no Natal? O que será que faria estas crianças felizes? Eu sei que elas não sentem fome só no Natal, mas também sei que é a data do ano que esta fome mais dói. Afinal, viemos de uma sociedade cristã. Muitas delas perguntam onde está Deus com suas ceias natalinas. Outras, cobertas com um pedaço de jornal, ouvindo os sinos da igreja, olham as luzes da cidade e tentam imaginar qual é o sabor de um panetone. Não é a injustiça, nem a desigualdade que mais incomodam, é a desumanidade. É insuportável saber, que para aquele menino, a moça de dentro do carro que deu o dinheiro de um lanche pra ele, seja só um sim dentre tantos nãos que ele escuta. Que a moça que sorriu pra ele, sorri porque não conhece a vida que ele leva. É insuportável a sensação de cúmplice que dá, quando o semáforo abre e a gente continua a vida como se nada tivesse acontecido. Mas... o que fazer? Eu, quando decidi postar sobre isso aqui no blog, fiquei envergonhada. Porque o garotinho está fazendo parte de uma marmita coletiva, e tudo que ele mais quer neste momento, é literalmente uma marmita. Será só mero acaso estarmos aqui? Eu, sinceramente, não sei... e não saber, neste caso, dói, dói muito!

5 comentários:

  1. Bom, acho que estas suas perguntas, minha queria Mazita, são as mesmas que muitos de nós nos fazemos todo santo e ingrato dia. A gente não sabe o que fazer. Não podemos mudar ou porque foi posto em nosso curriculo estudantil que só muda-se o mundo mudando os governos ou porque não queremos meter a mão na massa, e preferimos continuar lendo e estudando filosofia, dando uma redação positivista a tudo. Vestindo roupas caras e bebendo vinho com os amigos, celebrando uma discussão importantíssima: 'a culpa é de Deus ou é a falta de um?'

    A culpa é nossa, mas também não é! A 'maledeta' idéia(com acento) de que a responsabilidade é daquele cara, sabe? aquele? O ESTADO. Pôr a culpa 'nele' alivia as dores de nossa 'consciência social'!

    'somos tudo e somos nada. Destruímos o mundo, e fazemos questão de nunca reconstruí-lo. Quem viver e os que vierem verão o fracasso que deixamos. Nossa grande obra prima.'

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  2. Na lógica do mundo que construímos essas crianças são necessárias, essas pessoas são necessárias. Pra que alguém possa gastar três mil reais numa gravata da Hugo Boss na loja Daslu é preciso que uma criança vá dormir com fome sob jornais por aí...
    pra que um tenha demais, outro não pode ter nada...
    a triste lógica da diferença...

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  3. Quem não se sente mal numa situaçao destas? Eu também sempre fico entre a cruz e a espada. Se ajudo me sinto mal. Se não ajudo também me sinto mal. Mas vou levar a discussão para outro patamar, porém, não muito distante:
    Dia destes discuti algo semelhante com meu velho pai, um católico fervoroso. Vejo alguns "cristãos" gastando horrores para participar de um tal "Cruzeiro Católico" e no meu bairro tem até um outdoor onde aparece a propaganda do luxuoso navio. Não era pra falar de religião mas essa hipocrisia me irrita bastante e acho que de certa forma tem mto a ver com o que a Maísa disse.
    Por essas eu ainda acho que o único cristão de verdade morreu pregado na cruz e ele nem sabia que era cristão!

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  4. Por a culpa sempre no Estado é fácil, mais fácil até do que ajudar ou não o jovem ali no semáforo. Só que quando se fala "Estado" está envolvendo-te de certa forma, pois você coloca os líderes no poder. Sei que isso não é de agora, isso é um problema que se arrasta ao longo dos anos em toda parte do país. É uma pena, pois desses jovens poderia estar saindo novos "Drummond", "Roberto Carlos" dentre outros...

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  5. Olá.
    Estava hoje dando uma olhadinha na comunidade do Teatro mágico, no orkut, e vi um tópico muito interessante, que por sinal se referia ao mesmo assunto, e uma menina chamada "Mah" (rs... talez seja a Maysa que alguns citaram o nome..), postou esse link. Entrei, sem nenhum compromisso, e me deparei com esse blog. Confesso que adorei!!! E garanto que vou acompanhar quando puder.

    Bem, sobre esse assunto tbm tenho a minha opinião. E não deixarei de colocá-la aqui.
    É realmente muito triste toda essa situação, chega a ser constrangedor, acredito que tanto para quem pede, quanto pra quem doa (seja dinheiro, alimento,...). Mas o problema não é tão simples quanto alguns possam imaginar. É histórico, e portanto muito dificil de mudar. Quando vc disse "Não é do capitalismo, nem do governo que quero falar", saiba que se engana, pois tocando nesse assunto não há como deixar de falar de ambos. Para que exista o capitalismo, como existe, é necessário que alguém ganhe, e para isso alguém perde. Se existem ricos é pq existem pobres. Se existem donos de empresas, é pq eles usam do trabalho de outros pra ganharem seu dinehiro. E ai entraremos no assunto da mais-valia.. ixi, uma coisa muito ampla, que não é onde quero chegar.
    O que quero dizer é que há desigualdade social, sim! E não é de hoje, sabemos disso. Mas tbm não será de um dia pro outro que conseguiremos mudar. O governo tem a sua culpa, a sociedade tem a sua culpa, e , claro, nós tbm, como individuos, posssuimos certa culpa nesse imenso problema.
    O que essas crianças querem não é, apenas, conhecer o sabor de um panetone, como vc disse, nem "tomar um milk-shake com uma garota legal", e todas essas coisas burguesas as quais vc se referiu. A fome delas dói todos os dias, não mais no natal.

    Precisamos fazer a diferença, e não jogar a culpa em outros, isso é muito fácil.
    Obrigada pelo espaço.
    Beijos.
    E até logo.

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