A verdade é maior do que podemos suportar. Mas, ei, a verdade existe? Ontem tava contando moedinhas pra comprar jabuticabas. É tempo de jabuticaba e eu gosto delas porque me lembram a infância. Jabuticabas grandiosas, docinhas. Eram tão doces quando eu era menininha. Será que o açúcar descristaliza conforme o tempo ou minha língua perdeu o encanto? As moedinhas faziam barulhinho de jabuticaba, queriam ser jabuticabas. Eu realizei o sonho das moedinhas, que prateadas ficaram quase negras e brilhantes. As moedinhas tão solitárias cansadas daqueles olhares interesseiros ou desprezíveis, preferiam os olhares ingênuos das crianças pequenas ou até das crianças grandes que, cheias de esperanças, lembram de sua infância querendo sentir o gostinho negro de jabuticabas pra reviver ou só mesmo dizer que as jabuticabas perderam o sabor. Perderam só o doce, criancinha. Você não viu, mas ele se perdeu pelo seu tempo. E lá naquela barraquinha da feira, eu me aproximei procurando a jabuticaba, procurando meu doce da infância, procurando o açúcar ingênuo. Ah, eu encontrei. O velhinho dono da barraquinha preparou num pacotinho tão delicadinho, que não precisava porque eram moedinhas sendo jabuticabas. O velhinho olhava feliz pras moedinhas, talvez porque as suas jabuticabas já tenham se tornado amargas demais; e eu olhava feliz pras jabuticabas, porque elas podiam não ser tão doces e graciosas, mas ainda adoçavam meu dia. Ah, isso sim. E as moedinhas me pediram tanto pra trocarem de lugar com as jabuticabas. Eu voltei pra casa, quase cantando e feliz com aquele gostinho possessivo das jabuticabas que me levaram pra um tempo que eu já não lembrava. Puxando verdades, encobrindo mentiras e pesquisando o óbvio da minha vida. E elas não acabavam jamais. Sapateando pela calçada, me dando conta de que mudei a vida das jabuticabas e das moedinhas, encontrei um problema: não tinha como mastigar e engolir as cascas das jabuticabas. Nem todas as verdades são suportáveis. E eu não podia terminar meu ato tão belo e singelo jogando fora cascas de jabuticabas. Poderia enterrar nas terras que estavam por ali e ninguém veria, não? Mas é que eu não sei me enganar. Decidi então que faria um esforço psicológico, destes que a gente sempre acha que pode recorrer quando tem algum problema, e mastiguei as cascas amargas, portanto, com toda clareza dos conhecimentos gastronômicos que um amargo possa dar. De tão amargo, doeu. De tão amargo, perdeu a pouca doçura que ainda enganava meu instinto infantil. De tão amargo, me fez esquecer completamente o verdadeiro gosto da jabuticaba. De tão amargo, foi verdadeiro. E há verdades que a gente não pode suportar. As minhas jabuticabas terminaram, mas elas sempre terão cascas pra mastigar ou ter que jogar fora, fingir não existir. Não, não posso deixar de provar, jabuticabas são doces e lembram o passado tão doce quanto. E se eu provar todas as vezes o seu gosto amargo, vou perder o gosto por jabuticabas, tão infantil tal gosto. Tão infantilzinho. É melhor trocar moedinhas por jabuticabas e jogar as cascas amargas fora, não é mesmo? Afinal, se enganar é preciso pra manter a ingenuidade e o gostinho pela vida. Porque tem certas verdades que a gente não pode ainda suportar. Enquanto a verdade me veio e é recente, odeio jabuticabas até esquecer que elas doeram de tão amargas e sentir vontade de experimentar de novo o doce das lembranças. Por hora, odeio jabuticabas e moedinhas!
Outro de seus textos ruins né Maísa? vou te contar viu...ás vezes a humildade é ofensiva mesmo...
ResponderExcluirbjus
[emoticon envergonhado]
ResponderExcluirQueria ter habilidade pra escrever textos "ruins" assim.
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