quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Sobre marmitas, vinís e leitura


O post do Ramon me inspirou a escrever minha experiência com marmitas e afins. Passei a minha infância sem muito contato com meu pai, que além de trabalhar o dia todo no horário normal, na maioria das vezes fazia horas-extras, e costumava chegar após as 22 horas, momento em que eu já estava dormindo. Às vezes eu o esperava, porque ele sempre acabava trazendo algo para o filho mais novo (no caso este que vos escreve), como um chocolate ou um doce, que ganhava na hora da janta. Para minha sorte, ele se aposentou quando eu ainda tinha nove anos, o que fez com que eu recuperasse o tempo perdido de convívio. Ouvi muitas histórias sobre a atividade industrial, inclusive. Uma delas foi quando, ao passar em frente ao refeitório, enquanto levava uns materiais para a lixeira da empresa, constatou que um sujeito havia "surrupiado" sua marmita e se deliciava com ela, sem o menor constrangimento. Ao ser indagado pela chefia, informada pelo meu pai da ocorrência, ele ainda tentou justificar: "É que eu vi aquela marmita tão bonita, não resisti..."
Mas o fato é que o trabalho do meu pai foi o ponto de partida para meu apreço por música: meu pai era prensista de LPs na RCA-Victor, aquela do cachorrinho ouvindo a voz do dono num gramofone como símbolo, que anos depois foi vendida à BMG, que recentemente se uniu à Sony. Fato é que meu pai trazia discos para casa mensalmente, como cortesia da empresa. Tudo bem que havia de tudo ali, de sertanejo a rock and roll. Mas aquilo despertou em mim e em meus irmãos mais velhos o gosto pela música, a ponto de aumentarmos a coleção, comprando LPs por conta própria. A lembrança mais antiga que tenho de um vinil é o do David Bowie, "Pin-ups", que meu irmão mais velho tinha pego emprestado de um amigo e ouvia direto. Também lembro que, mesmo depois do lançamento dos primeiros CDs, ainda continuei comprando meus LPs. Um belo dia, meu pai resolveu pedir para um dos meus irmãos vender os discos que ele não ouvia mais, porque ocupavam muito espaço. Meu irmão levou tão ao pé da letra que, por engano, vendeu os meus também...
Passada a raiva, e depois de um bom tempo aumentando minha coleção de CDs, deixei um pouco de lado a fissura. Com o advento da internet banda larga, perdi um pouco o apego pelo disco "físico". Ando baixando muita música, pensando em vender uma parte dos cerca de 400 cds que ainda mantenho.
Depois de aposentado, meu pai teve um carrinho de doces no centro de Osasco, minha cidade, e quando não o acompanhava, era o responsável por carregar a marmita até onde ele estava. Eu, menino, me virava com lanches. Depois de algum tempo, com a ajuda do meu pai, meu irmão comprou a banca de jornais que ficava ao lado do ponto onde o carrinho de doces ficava. Esperto que era, eu revezava entre os chocolates e salgadinhos e as revistas e jornais. Quando meu pai foi impedido de continuar no local, por uma medida do prefeito à época, continuei na banca. Acho que minha experiência como jornaleiro foi que me inspirou a vontade de ser jornalista. Li de tudo, de jornais a revistas de culinária, de horóscopo a pornografia (dêem um desconto, eu tinha 13 anos). E claro, a música tomou conta, já que eu tinha à minha disposição revistas como a Bizz, a Rock Brigade (que eu não gostava por ser predominantemente metal) e outras que surgiam mas acabavam logo. Era a época de revistas-poster, que contavam histórias de artistas. E tinha um rádio toca-fitas, onde eu ouvia música o dia todo. Foi lá que, em 1989, ouvi o programa "Estúdio Ao Vivo Transamérica" com uma banda da qual eu só conhecia uma música, que havia feito parte de uma novela de três anos antes, "Hipertensão". Foi um programa tão espetacular, que me fez passar a acompanhar com mais atenção aquele (à época) trio. Logo que ganhei meu primeiro walkman, adquiri minha primeira fita K-7, de um álbum vermelho, lançado em 1988. Mas isso é assunto para um outro post...

3 comentários:

  1. "Eu presto atenção no que eles dizem..."
    Sempre rondei bancas de jornais, adorava HQ da Marvel e da DC, mas em matéria de música só tinha o bom e velho Motoradio AM... K-7 só nos anos 90, e EH gravada com chiado de um especial de 1 h com vinheta e tudo numa TDK. É com tristeza que confesso: mesmo contemporâneo do vinil, nunca possui um na vida...

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  2. Sou viciado em bancas de revista!!! N passo por uma sem dar uma olhada e mtas vezes levo uma revista, jornal, dvd ou cd. É uma espécie de marmita cultural..rs

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