quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Ainda sobre filosofias de marmita...

Que raios marmita tem a ver com filosofia? Sinceramente, a pentelha aqui entende muito mais de marmita do que de filosofia. Afinal, quem nunca comeu em marmita que atire a primeira pedra, né, minha gente? Não gosto muito de falar da minha vida, porque acho que não tem muitas coisas pra lembrar e porque evito me expor, mesmo. Mas me recordo que desde pequena acreditava que minha verdadeira formação e educação viriam com aquele modelo conservador de educar. Engravatados, professores universitários, que já leram todos os livros didáticos do universo e sabem citar fórmulas químicas, matemáticas com a mesma facilidade que tenho de nunca me lembrar. Eu já quis ser advogada, empresária, engenheira, bancária. Invejava profundamente as roupas sociais, a pasta cheia de documentos, a falta de tempo, a sobre carga. Meu grande sonho era entrar numa faculdade assim que concluísse o terceiro colegial. E esta idéia de educação foi implantada inconscientemente. Não foi pelos meus pais, que mais desanimavam em pensar num futuro diferente da nossa realidade beeem pequena. Sempre acharam utopia para alguém com as nossas condições financeiras. Não, não tirem conclusões precipitadas. Meus pais foram ótimos. Como puderam ser, com a quantidade de informações limitadas que tinham. Com o passar dos anos fui me dando conta de que as coisas não eram bem assim como eu sonhava ou só imaginava. Os dias de aula de filosofia eram os que eu mais faltava, porque tinha preguiça de ir à escola pra ouvir tantas coisas cansativas e o que, para mim, era só balela. Fazia as provas e nunca ia nos trabalhos em classe que eram mais práticos. Não consegui ler "O mundo de sofia", apesar de gostar muito de ler, desde muito cedo, começando com revistas em quadrinhos (acho que minha primeira noção de filosofia pé de chinelo). Não consigo me recordar de nenhuma aula de filosofia. Creiam! Logo arrumei meu primeiro emprego, numa empresa de embalagens. Era auxiliar de produção e foi lá que conheci a marmita filosófica ainda sem saber do que se tratava, nem sequer que era isso que fazíamos naquela casualidade obrigatória. Todos os dias no horário de almoço, esquentávamos nossas marmitas e sentávamos na calçada em frente à empresa que ficava numa esquina pouco movimentada, num bairro bonito. E lá trocávamos idéias, falávamos sobre o mundo, as pessoas, a tv, política, música, filmes, literatura e afins. Perdi as contas de quantas marmitas já comi, quantas filosóficas, quantas emocionadas, quantas sobrevivenciais, quantas o auge do que eu queria ser: me orgulhar de algo no fim da minha vida! Quando tive condições, me matriculei na faculdade de Administração, fiz três anos e tranquei, por motivos que não cabem. O emprego melhorou, a marmita foi substituída por PFs em restaurantes. Vieram os amigos do trabalho, da faculdade, alguns de infância permaneceram e nos reuníamos pra tomar vinho à noite em uma das praças da cidade - hábito comum em cidades do interior. Reuniões aos sábados pra beber, falar de música e jogar sinuca na casa de amigos. Boteco aos domingos: palavrão, muita bebida e filosofia de botequim. Eu poderia estar pensando na última moda, em namorados, em fofocar com as amigas, mas estava na vida mundana mais pervertida, haha. Mas foi nesta vida mundana que conheci os melhores amigos, que música passou a deixar de ser só uma 'diversão', se tornou minha vida. Me tornei compulsiva por Beatles, Mutantes, Clarice Lispector, Truman, Led Zeppelin, Oasis, e vários. Deixei de ver um filme como uma histórinha e passei a vê-lo como uma parte da minha alma voltada para o cinema. Nesta vida mundana que descobri meus amores inúteis pela arte e me dedico a eles desde então. Ser doutora, pouco importa. Ser letrada o caralho! O que realmente faz a diferença é que me emociono com o disco velho e o disco novo, com o clássico do cinema, com o 1984, com os sons delicados do piano e aprender cada vez mais sobre estas coisas que são parte de mim. Porque é a filosofia de boteco, a filosofia de vinho na praça, filosofia de sinuca com os amigos, filosofia de jogo da verdade... Filosofia de marmita que me faz ter cada vez mais fome de conhecer e compartilhar o que toca almas e faz humanos de verdade. Tenho várias marmitas com inúmeras filosofias de esquina pra compartilhar. Almocem comigo?

5 comentários:

  1. Sacanagem...era pra escrever um texto bom...mas não TÃO BOM...e agora, como é que eu fico?

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  2. Nem é digno escolher o melhor!

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  3. Acredite ou não, eu ADOREI.

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  4. Salve Salve amigos da Marmita Filosófica!Parabéns pela idéia...
    A partir de hoje não como mais em restaurantes! Só nesta "mardita" marmita!!! E tenho dito!!!!

    Claudinei Cotta

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