segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A arte profetizando a vida.

O cinema nos tira a tristeza da impossibilidade; nos dá a possibilidade de ser. Como disse Federico Fellini, cineasta italiano: "o cinema é um modo divino de contar a vida." Porque um filme não tem fim, não tem começo; só alimenta mesmo o seu amor por viver. E nós, amantes ou simpatizantes da sétima arte, nos sentimos deuses e nos encontramos em um pedacinho de cada personagem das telonas. Não podemos escolher o destino deles, mas assistimos a suas sagas, suas angústias, seus desesperos, seus sonhos e felicidades como se estivéssemos lá. Naquele mundo extraordinário, invisível e causador de um vazio viciante entre o ápice da história e o piscar da tela que indica as reticências da história que você só acompanhou o que pôde, o que viu. Uma linha tênue da criação do diretor e a da nossa imaginação.
Eu, como amante envaidecida do cinema, poderia passar dias falando das sensações e da importância que ele assume em nossas vidas, mas o que me traz aqui, é um filme específico.
Quando lançado, em 1997, "Gênio Indomável", do cineasta Gus van Sant, fora bombardeado pelos críticos por ser um filme convencional e "mainstream". É característica forte deste diretor, retratar o jovem norte-americano de forma elaborada. Matt Damon interpreta um faxineiro, o Will, com uma genialidade sem tamanho para a matemática. Um pobre rapaz que leu tudo, e que, apesar de sua inteligência nata, carrega uma auto-defesa disfarçada de arrogância e prepotência. Para "curar" estes traumas do passado que transbordaram nas atitudes do presente e o transformaram no rebelde com causa que é, Will têm vários embates com seu recente terapeuta Sean Maguire, interpretado por Robin Williams. Embates estes que são os momentos mais interessantes e emocionantes do filme.
Will é uma espécie noventista deste jovem nerd que estamos cultivando. Aquele que passa 20 horas por dia acompanhado de seu lap top, cafeína pra se manter acordado e remédio pra dormir quando sente que precisa descansar, óculos de grau e centenas de livros pra ler. Jovens que nos assustam com a quantidade de informação que conseguem guardar. Quem nunca aprendeu alguma coisa com uma criança de 5 anos? Bom, minha sobrinha ensina minha mãe a regular as cores da televisão e ela tem 7 anos. Não sei se estamos entrando numa geração perigosa, mas é assustador ver um jovem como este se achando dono de todas as verdades só pelo talento e genialidade que têm causados pela era dos megabytes. Só, Maísa?! Tudo bem, eu admito que também fico boquiaberta com o poder da argumentação destes, mas quais são as experiências de vida que estas pessoas têm? Já perderam um amigo? Tiveram que lidar com a morte? Se apaixonaram? Precisaram enfrentar uma fraqueza ou um medo pra conseguir algo que queriam? Ou passaram a adolescência se divertindo a beça com os joguinhos mais famosos da internet? Talvez encontremos um equilíbrio, um dia. Mas não é nossa realidade atual, em que as crianças são cada vez mais sedentárias, viciadas em fast-foods e coca-cola e ao invés de devorarem livros, devoram centenas deles e mais todas as páginas da web que cruzarem seu caminho "navegador". Lendo esta palavra, tive um súbito desejo de que estes jovens realmente pudessem navegar, velejar, jogar futebol um dia. No sentido literal, mesmo. Mas será que eles querem? Será que seus relacionamentos humanos começarão da maneira tradicional ou os namoros virtuais serão a única maneira de conseguir se casar daqui uns dias?
Confesso, eu estou com medo destas pessoas cada vez mais máquinas que nós estamos criando. Porque estes jovens e o futuro que estão construindo com seus presentes, não são só personagens de um filme futurista da humanidade provável de séculos adiante; o filme é baseado em fatos reais e com final muito previsível de pessoas infelizes com a realidade virtual que se submeteram. E nesta realidade cinematograficamente linda, será que as pessoas se emocionam?

2 comentários:

  1. Eu sinto um pouco de falta de ver a garotada tendo que "trabalhar" um pouco mais para inventar a sua brincadeira. Tipo fazer carrinho com lata de óleo, construir casas na areia, espada com cabo de vassoura, essas coisas. Crianças andam entendendo demais sobre controles-remotos e joysticks, eu acho. Do mesmo modo, sem ser contraditório com o que eu disse sobre forma e conteúdo, mas me falta folhear um livro amarelado de vez em quando, ao invés de ler os textos apenas em uma tela de 17 polegadas.

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  2. Tem duas coisas que eu acho geniais nesse filme. Primeiro, o questionamento sobre o papel do conhecimento racionalizador do ocidente na nossa vida. O personagem principal acaba percebendo que saber o que ele sabe não significa que ele será feliz. Depois a solidão que pessoas assim sentem. Ele é mais próximo de Nietzsche, Freud e outros mortos do que de pessoas vivas...
    eu sei bem o que é isso...

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