Dedicado a você, que não nos esquece.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Iconoclasta
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
A química nossa de cada dia
sábado, 19 de dezembro de 2009
A trilha sonora de um mundo que não existe mais...
Humberto Gessinger é um cara que ainda escreve canções. Ele é o sobrevivente de uma época estranha, em que as pessoas esperavam que os artistas dissessem algo através de sua arte e muitas vezes esses artistas acreditavam que isso era possível. Se a obra dos Engenheiros tivesse aparecido na década de 60 em um país menos tropical talvez não tivesse passado por toda sorte de vilipêndios que enfrentou. Na melhor das hipóteses Gessinger pode ser classificado como um atavismo que superou as tentações fulgurantes das mudanças e adaptações à moda justamente por se dedicar a algo incrivelmente anacrônico: escrever canções. Muitos já estão pensando nesse momento: "mas, um monte de gente ainda escreve canções!" Será mesmo?
A canção popular é um fenômeno cultural da modernidade. Não é de se assustar que o fim da era moderna, o qual atravessamos desde o final os 60's, ameace de extinção a canção. O paradigma em que ela nasceu e surfou quase soberana por tanto tempo não mais existe. A produção enlouquecida de música eletrônica (que não segue o padrão de uma canção) é prova disso. A canção se torna a exceção dentro de uma regra que prega a repetição, o barulho, o caótico. Muitos "artistas" que pretendem trabalhar canções vendem uma outra coisa, um estilo, uma festinha, um rostinho bonito, e a canção é só um brinde. Para um público que não sabe ouvir, "artistas" que não sabem compor ou tocar. O melhor e mais mastigado exemplo são as bandas emo, mas podemos colocar no mesmo balaio o Capital Inicial, os Titãs, as bandas de festa 'ploc', e toda essa farra do boi em que se transformou a música brasileira.
Essa realidade só torna o trabalho do cancioneiro uma anacronia ainda maior. Talvez seja a primeira sensação que nos acomete quando ouvimos o trabalho de Gessinger e seu parceiro, Duca Leindecker, no projeto chamado Pouca Vogal. Quando o duo liberou suas oito canções inéditas e semi-acústicas no seu site havia algo ali que chocava. O que chocava era a distância monumental do barulho, da bagunça, da gritaria e do baticundum fake que permeia 99 em cada 100 trabalhos musicais lançados hoje. Mas somente assistindo ao DVD que essa impressão se decantou e confirmou. Tudo é sofisticadamente simples, menor, singelo. Apesar de se multiplicarem sobre múltiplos instrumentos e bugingangas, nada é exagerado, nada é além da medida, nada é falsificado. Mas o que impressiona mesmo é o fato das canções funcionarem num mundo em que ninguém mais liga pra canções. Podemos ignorar isso, mas é assustadoramente sintomático que os Beatles continuem na mídia mas que pouco se fale sobre as canções que fizeram juntos. Isso explica também o fato de que Lennon, obviamente o beatle com a vida mais impressionante, tenha uma presença midiática mais forte que os demais membros da banda.
Outro fato sintomático é a incapacidade latente dos "músicos" populares de hoje de falarem sobre música. Tudo é falado, narrado, investigado, da cor do esmalte à quantidade de obturações dentais do dito cujo, mas todos são incapazes de falar sobre música, sobre o que é legal ou não, sobre quais as pretensões artísticas, timbres, letras, etc. O melhor exemplo de diletância vazia são as entrevistas do Marcelo Camelo. Poucas pessoas tem aquele talento para falar, falar, falar e nada dizer. Até o "hã?" de sua namorada adolescente, Mallu Magalhães, é mais profundo que tudo o que o Camelo acha que diz.
Mas estávamos falando de músicos sérios. Quem estiver procurando um disco de rock nos moldes tradicionais deve passar longe do Pouca Vogal. Quem quiser algo revolucionário e avant garde, também. Não temos excessos e firulas, nem ôêôs com a platéia. Não temos guitarras quebradas no palco, nem carinhas de tesão fake pra impressionar as menininhas. Ao invés disso Gessinger & Leindecker nos dão canções, boas canções. Em tempos de arte vazia e megalomaníaca, em que tudo é purpurina e falação, isso é uma grande coisa.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Praticamente nada
“Senhoras e senhores, este trabalho é fruto de alguns dos anos mais solitários de minha vida. Os anos que passei dormindo mal, me alimentando de forma errada e automática. Nestes anos, não pude diferenciar o clima, não sabia se chovia ou se fazia sol, exceto pelos dias em que fui obrigado a ir a campo, atirando no escuro para comprovar algo que nem mesmo sei se é verdadeiro. Senhores, façamos um exercício de imaginação. O que vale mais para um leigo? Saber o motivo daquele tom alaranjado no céu ao amanhecer, ou apreciar a bela cena ao lado de alguém de quem gosta? Entendam: não estou aqui querendo desmerecer o trabalho dos cientistas, tudo isto diz mais respeito a mim do que a eles. Entendo hoje que desperdicei alguns bons momentos a troco de algo que nunca usarei em minha vida prática. Mais do que isso: limitado às minhas pesquisas, não tive jamais uma vida prática. Sei menos do que um operário, não nego. Fico aqui a pensar o quanto sou capaz de transmitir aos meus futuros pupilos, e o quão importante será para eles os ensinamentos que eu julgava importantes até uma hora atrás. Senhores, tenho que confessar: este meu "surto", minha “ficha caindo”, se devem exclusivamente a um sorriso na terceira fila. O sorriso de quem nunca deixou de acreditar que eu fosse estar aqui. O sorriso de quem, mesmo querendo que eu estivesse por perto, vendo as folhas caírem no outono, nunca foi capaz de me cobrar. E hoje estou aqui. Apresentando o resultado da minha reclusão. Do meu desligamento do mundo. Para quê? Não sei. Não sei. Pra satisfazer meu ego, talvez. Pra satisfazer aos requisitos do mercado de trabalho, o mais provável. Fato é que eu não queria estar aqui. Não tenho talento pra enganar ninguém. Talvez ainda haja tempo de recuperar o que deixei para trás. Quem quiser saber de mim, me procure na beira de um lago qualquer. Ou numa praia deserta. Ou num sítio, sentado numa pedra, observando as formigas carregarem folhas num dia de verão. Pensando melhor, não me procurem. Vão vocês também procurar o que fazer, ao invés de ficarem trancados dentro de si mesmos, fingindo saber o que não sabem, fingindo que têm talento para avaliar o que não pode ser avaliado. Desculpem por fazê-los perder tempo comigo".
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Reflexo do terror
terça-feira, 24 de novembro de 2009
"(...) e nossas vidas são tão normais..."
sábado, 21 de novembro de 2009
Novo mojo single
sábado, 14 de novembro de 2009
Nada surpreende
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Gosto se discute?
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Discos malditos - Simples de Coração
No fim das contas, é um disco que envelheceu bem, continuando atual até hoje. Greg Ladanyi, famoso por seus trabalhos com Madonna, Fleetwood Mac e Toto, produziu o disco e trouxe um som límpido, onde todos os instrumentos são ouvidos com nitidez.
Pra terminar, um comentário pessoal, que pode causar horror aos puristas: é o meu disco preferido.
O bando, ops, a banda, em 1995.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Outro Mojo...
P.S.: tem integrante do blog na fila pra ser publicado, e com certeza tem mais gente preparando seus mojos. Aguardem que vem coisa bacana por aí.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Por merecer um poema...
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Jabuticabas, medos e meninos.
Na verdade, nunca desejou aquele saudosismo que sentia ao estar diante deste fato. Nunca houve algum momento em que precisasse lamentar sua vida e refugiar-se no passado para suportar o presente e as possibilidades do que esperar do futuro. O instante era tão oco e silencioso, tão sublime... Avistava o topo da árvore insana como se voltasse aos oito anos e todas as suas traquinagens borbulhavam em seu sangue novamente.
Se tivesse o mínimo de coragem - ou falta de senso de responsabilidade, diriam os mais conservadores - subiria ao menos nos galhos mais fáceis. Tão tranquilizante como apaziguador era relembrar de sua coragem, do quanto já foi mestre em alcançar galhos perigosos e apanhar as frutas mais doces em dias de verão. Matar a sede com saliva doce de jabuticaba era, entre outras coisas, seu passatempo favorito. Sentia o cheiro de bolo de fubá que sua mãe preparava em todas as tardes de sábado. Inquietava-se ao recordar sua mãe, a mais eterna deusa de sua vida, porém, estar de frente à árvore, sua companheira fiel dos tempos de risos, trazia também o gosto amargo da crueldade que sua mãezinha, tão protetora, o aplicou para seu próprio "bem". Que culpa ela tinha, pobre mulher? Houve um tempo desconfortável que sua educadora-mór o castigou da maneira amena com que toda mãe zelosa o faz, convencendo-o de que aqueles malabarismos eram fatais para sua vida. Que se caísse dali poderia morrer, ficar paraplégico, ser tirado de seu lar para morar com desconhecidos maldosos, receber um castigo dos céus com duzentos anos de azar, ou qualquer tragédia maior que sua mãe se lembrasse no momento do discurso. Não se convenceu fácil, não se conformava com os empecilhos que sua vida tão infantil já trazia. Queria que tudo fosse diferente, mas, pra não magoar sua tão amada mãe, desistiu da árvore.
Ah, se soubesse o que isso o causaria hoje! Depois de desistir do seu primeiro grande feito, qualquer adversidade que a vida o impusera, pensava nas recomendações da mãe. O medo passou a fazer parte da sua vida de tal forma que não existira até ali. Se contorceu durante muito tempo para abafar gritos que poderiam prejudicá-lo. Tornou-se um homem bom, porém passivo, porque temia a cada árvore como se a morte não fosse mais a pior das consequências. Embora pensasse nisso agora, reconhecia sua vida estável, suas boas escolhas, seus bons feitos e orgulhava-se de quase tudo. Menos dos riscos que deixou de correr, da falta de humanidade que infiltrou-se em sua lógica. Diante de todas estas lembranças esquisitas e que julgava imbecis, avistou o netinho sentado, brincando de bolinha de gude. Sorriu com o canto da boca, cheio de esperança e uma espécie de redenção saía do ar que respirava; sentia alívio sem saber. Rendeu-se a ingenuidade de sua velhice transformando-se em menino. Segurou a mão do neto com a força que jamais imaginou que ousaria de tanto sentimentalismo; engoliu seco uma porção de lágrimas que não entendia de onde vinham e com o vento batendo em sua face e refrescando seu momento de transformação, ensinou pacientemente o neto a subir na árvore e encorajou a alcançar a mais alta fruta. Quando a criança no alto da árvore segurou a maior jabuticaba e levou aos lábios, uma lágrima caiu de seu rosto e então se perdoou...
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Ser o nada, para nada ser obrigado a ser
Durante o sono que não sei mais dormir, descanso meus pensamentos pensando. E penso muito, penso tanto que minha mente adormece, entretanto, ativa, sempre tão ativa, altiva. Às vezes acordo com marcas e máculas dos sonhos, outras vezes os sonhos tão somente são aquelas coisas todas que conversamos até que o meu corpo se canse, ou desista: a desistência pode ser, muitas vezes, a única salvação.
Dialoguei interminavelmente comigo mesma, e com algumas pessoas que me estimulam o distanciamento para a 'confecção' de coisas para se crer, e ideais para não se buscar; não por não crer, mas por crer não serem possíveis, e de gostar que sejam apenas parâmetros... para o que dará errado.
Por favor, perdoem-me o pessimismo, pois não o é. Apenas estou admirando uma vertente nova. No momento estou ouvindo qualquer coisa de Bob Dylan, e estou como sinto a voz e a música dele: um sofrimento prazeroso. Tente me acompanhar, leitor; a voz dele é desafinada (aparentemente- mas eu adoro o mal feito... bem feito), melancólica, irônica; porém, sinto uma felicidade no mais íntimo do último som a ser ouvido inconscientemente por mim, tanto que é quase impossível a descrição do que dissimula nessa que vos escreve, quando o ouço. A todo o momento parece-me que ele conta uma história macabra de sua vida, mas sempre com o santo e bendito humor negro; humor este que nos afeta, os desesperados. Então, é como o ouço que me sinto hoje: um misto de quase tudo o que é contrário e contra. E isso fez com que eu me lembrasse de outra música [vai uma dica musical ai:] 'Balada de Agosto' de Raimundo Fagner e Zeca Baleiro, que diz 'meu coração vive cheio de amor e deserto'; conseguem compreender a profundidade e o quão dolorido pode ser sentir-se assim, e acreditar que é um estado imutável, invariável? Entretanto, ao mesmo passo, é um deleite saber que é isso, e assim o será. O mais difícil, porém, é aceitar e viver. Pois, independentemente de sermos assim, não se pode, não podemos viver desta forma; não aqueles que não querem - como diria a minha mãe- 'segurar o pau da bandeira', não é válido a luta àqueles que querem se afastar e se manterem afastados. Pois, apreciem bem, se o que se é, é distanciamento, e se quer viver assim, o preciso é a distância. Na nossa cultura e no nosso mundo, e se quisermos ainda conservas os amigos e a família, teremos de provar que a distância que queremos é verdadeira, e, logo – ao tentarmos enturmar para provar isto-, não viveremos como queremos. Àqueles que não contarão o que são a distância é amiga sempre.
Acho que me perdi, talvez; mas as perdas nos meus escritos são mais importantes do que concluir com maestria.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Outro Mojo Single
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Sobre lares e casas.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
"Let down..."
- Nunca achei que Principês estivesse errado, mas sabia que aos olhos dos julgadores que o condenavam sem nenhuma certeza aparente, saber do que Principês fez por pura diversão daria a eles motivos para enforcá-lo instataneamente. Fomos expulsos. Um pelo que nunca fez e acusaram ter feito, o outro por ter feito um pouco, mas nunca o que acusaram. Decidimos sair em silêncio. Meu silêncio era fidelidade e moral, o dele, um tanto de culpa. Ora, nossos idealismos! Fomos escorraçados do reino o qual há muito já não acreditávamos mais. O tempo passou sem que eu tivesse um contato verdadeiro com Principês. Vejam só, agora Principês volta ao grande cargo... Ele sempre gostou de poder, e achei que a política lhe fosse um bom caminho. Mas não faz sentido se o próprio ego é mais importante, não é mesmo? Como pode, meu caro sadês, trocar os escrúpulos por tirania? Eis que sigo acreditando na amizade e que, realmente, não me corrompo. Não presto, não nego. 'O que obviamente não presta sempre me interessou muito.' Mas tenho preferido não prestar em silêncio. E este é Principês...
Subitamente Felício fora cortado, pois entrava no ar a tão esperada coletiva de imprensa anunciando a volta de Principês. Coletiva esta que, faria com que as palavras ditas anteriormente perdessem o valor. Porque Felício era só um idealista romântico, já Principês era este aí...
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Mais um Mojo Single
http://mojobooks.virgula.uol.com.br/mojo_inteira.php?idm=372
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Memórias de um leitor analfabeto, ou como desaprender de tanto saber
domingo, 16 de agosto de 2009
Desconstrução
sexta-feira, 24 de julho de 2009
E se eu fosse "Beatriz"...
“Minha casa é vazia, mas as vozes nunca se calam. Eu os ouço sempre, tão alegres. A vida deles é tão calma, que me inveja a bonança da noite.”
“Se eu pudesse apenas entrar na sua vida, jamais o faria: merecemos mais. Se eu pudesse ser feliz, eu seria. Se eu pudesse fazê-lo feliz, talvez eu hesitasse.”
Na porta dela, agora, alguém bate a cobrar. Cobra emoções, cobra carícias. Os olhos dela mareados não vêem nada mais: o mundo é uma onda, e sua vida um naufrágio... Mas as vozes, as vozes sempre surgem, a casa toda tão alegre.
Seus pés tocam o chão, está tão frio. Seu coração pulsando em descompasso com a música que ela dança... A música é serena, a voz do cantor tão sofrida.
Os olhos dela estão fechados, e ela pensa em alguém. Força um sentimento: tem medo de ser feliz como em casa, como sozinha.
Acaricia a tatuagem que fez, e que hoje odeia. Toca os cabelos, e dá uma volta dançante em si mesma... As luzes se apagaram, a platéia está muda e ela concentrada...
Hoje ela resolveu não abrir a porta, a dor do apego não entrará, e ela não sofrerá... amargura que seja. A peça dela, hoje, será uma comédia... um monólogo.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Os sons do silêncio...
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Virgínia.
Atentamente observava o salão, repleto de pessoas de movimentos suaves e sorrisos ariscos. Virgínia tentava novamente compor sua canção, imaginando-a a cada passo calmo pela festa que ela, na verdade, não participava nem entendia. Se foi capaz de cumprimentar alguém, pouco levava isso
domingo, 12 de julho de 2009
Caminhando pelas ruas do ciberespaço
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Lorena na Mojo
quarta-feira, 1 de julho de 2009
"Pois quem tiver nada pra perder, vai formar comigo um imenso cordão"
Agora que estou às portas da morte, questiono-me sobre o porquê das pessoas contarem os segredos ou revelar verdades quando estão para morrer. Sabe, tenho uma doença que médico algum diagnostica, que benzedeira alguma cura (sim, odeio coisa relaciona a este tipo de crença, mas estou muito fraco para impor minha vontade), que reza alguma funcione. Passei minha vida toda guardando alguns segredos, não por serem importantes ou reveladores, mas você já percebeu o quanto é difícil manter algo secreto? É como se as pessoas conseguissem ‘sentir’ (falando assim, parece que me refiro a um cachorro... mas, pensando bem, as pessoas são como cães farejando motivos para ferrarem com tudo) quando algo está tampado pelo véu casto dos segredos. E sempre tentam macular tão jóia, tais mistérios. Por que o ser humano gosta tanto de acabar com o que nos aguça a curiosidade, de desvendar tudo? Os mais descrentes me parecem tão desesperados para crer em qualquer coisa que crêem ser possível obter verdades sobre tudo. Coitados.
Mas voltando ao ponto, por que revelar os segredos quando estamos para morrer? Uma coisa que nos sacrifica tanto para manter, sendo entregue tão facilmente, simplesmente porque se não contarmos os ‘mistérios’ morrerão conosco. Mas, não é exatamente está a idéia? Que os segredos morram conosco? (ah! Vai entender essa mente humana). Ou será que precisamos provar, depois de sabe-se lá quantas cobranças pagas, que amamos alguém, e para isto temos de entregar até o nosso último e secreto desejo... ou mentira.
Fui casado por muitos anos, muitos anos mesmo. Uma vida (como se eu tivesse tido outra, como se fosse possível outra... Talvez para quem perca a memória sim, mas não é o meu caso). Sempre fui honesto, mas comigo mesmo. Oras, por que ser honesto comigo é indigno? Não me via obrigado a dançar a música da minha esposa, só porque ela queria que eu partilhasse tudo com ela. Nunca partilhei tudo com ninguém. O máximo que eu dividia era o meu nada, o que já era muito, porque se você for pensar bem, o nada é muito mais do que qualquer outra coisa. É a forma mais rápida de manter secreto um segredo (isso foi um trocadilho sem graça? Desculpe-me, oquei, estou para morrer. Talvez meu senso de humor não funcione tão bem como outrora - Oh palavrinha feia... não gosto).
Certa noite, cansado como nunca estive, acordei e vi à cabeceira de cama minha mulher, prostrada, um padre e minha mãe: era hora da extrema unção (sempre achei que se escrevesse ‘extremunção’. Erro grosseiro, não é mesmo?). O padre veio, fez todo aquele teatro, livrou minha alma sabe-se lá do quê, para ir para sei lá onde, enfim, aquele ritual de partida fora feito. Minha mãe acompanhou o padre até a rua, e minha mulher postou-se ao meu lado, passando as mãos em minha cabeça. Acariciava meus poucos cabelos e minha testa, talvez ela pensasse “vá, morra logo. Livrai-me disso tudo.”, mas nunca disse. Minha respiração foi ficando cada vez mais lenta, meus olhos com a expressão caída (como outras partes do meu corpo, se é que me entende), minha hora estava chegando, ou era a hora da morte trabalhar? Tanto faz. Minha mulher olhava-me com uma cara estranha, como se me perguntasse algo. Não consegui compreender. Depois de muito silêncio e um olhar esquisito, ela me disse: “não tens nada a me dizer? Nada que queira revelar? Ou algum segredo que precise que eu saiba?” Olhei para ela, fiz uma força descomunal, pois estava muito fraco, e respondi que não. Depois morri. E por hora não sei onde estou. Pois bem, acredite nisso. Ou você achou que eu fosse revelar esta ‘verdade’, este ‘segredo’?
terça-feira, 23 de junho de 2009
Nada mais, nunca mais...
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Você é o que você come...
terça-feira, 9 de junho de 2009
"Recompondo..."
Ele só queria sentir o que poderia ter do nada, ter de expectativa alguma, de obrigação mínima. Queria provar a sua própria companhia: precisava sair. Decidiu, então, levantar-se naquela manhã triste e trivial e não pensar. Não tomar nota de si, daquele si de todos os dias infelizes. Ele virou-se para o lado e o viu, estava tão medonho, tão íntimo, tão só; não agüentou vê-lo descaradamente compreendido, e relevantemente não enigmático; a vida tinha se transformado em, apenas, uma seqüência de dias iguais. Ele lembrou-se de que eram o que não deveriam ser, que eram contrários e eram contra. Tornaram um ao outro um casal comum, um casal chato, sem graça, sem particularidades, sem desbravamentos. Ele não mais suportava. Vestiu-se apressadamente, como de costume, e pôs-se a cantarolar algo indecifrável. Foi até a cozinha, preparou o café, como de costume, colocou os pães, o suco, o bule de café, o bolo, as xícaras, como de costume, sobre a mesa. Deu um gole a seco no café forte, e saiu.
Naquela manhã ele fez o mesmo trajeto de todos os dias, mas não percebeu nada ao seu redor. Ele não percebeu a menina que explodia em alegria brincando com um filhote de cachorro na porta de casa, não percebeu o cego que o fez parar antes que uma bicicleta o atingisse, não reparou no jornaleiro que anunciava uma nova contratação de um clube qualquer de São Paulo. Ele não percebeu que o ônibus estava lotado, que as pessoas estavam com aquela cara de sempre: a cara dele era a expressão de todos. Desceu do ônibus e, finalmente, chegou ao serviço; quando olhou para a entrada, pensou: “Eu poderia não ter vindo para cá hoje. Eu poderia ter entrado em qualquer outro ônibus e ido para algum lugar que me fizesse lembrar o caminho.”. E como se não houvesse mais tempo para isto, ele entrou no prédio. Cumprimentou fria e equivocadamente seus bastardos colegas de infelicidade. Ele desistira, outra vez naquele dia, de abandonar os reflexos do fracasso. Ele foi novamente apenas o ‘Ele’ que ele não agüentava mais. Naquele dia ele desistiu.
Na volta pra casa, para aliviar a própria consciência dos pensamentos francos e honestos, passou em uma adega e escolheu um vinho. Passou em uma livraria e escolheu um livro. Naquela noite eles se conheceriam, eles beberiam, leriam um para o outros, e desabafariam o peito em segredos presos na ponta da língua.
Quando abriu a porta de casa e entrou, sentiu algo estranho. Não havia cheiro de ‘banho tomado’. A casa estava vazia. Foi até o quarto e viu que somente as suas coisas estavam ali, e viu que todas as suas coisas estavam arrumadas, como se jamais tivessem, ainda que se conhecessem tão bem, misturado nada de suas vidas. Como se nunca tivessem dividido uma gaveta, uma estante, uma prateleira, um caderno: eles não se uniram, nunca. E em seu rosto lágrimas rolaram, rolaram numa desordem grata, num concerto de gratidão. Ele estava sozinho, e não precisara sujar-se com o fim.
Chegando à cozinha encontrou um envelope, ficou irritado, pois aquela carta distorcia todo o ambiente, era algo que não queria que estivesse ali, abriu-o e leu:
“Sabe o que é acordar todos os dias e sentir que estás apenas se levantando, ou que esperas, apenas, que chegue a noite para que possa, se Deus quiser, desperdiçá-la dormindo -acontecimento raro. Entretanto, mesmo que rasgue a noite em pensamentos lúcidos, ela não está lá, você não está lá. Nunca se vê, nunca a nota... Nunca ME nota. Triste e bela a Noite, apenas calça as sandálias, e desfila pelo corredor. Só em casa, trancada, a Noite pode exibir-se. Você esqueceu, desaprendeu a vê-la: ela não interessa, eu não interesso. E para você, então só resta fechar os olhos e adormecer, entretanto, você é muito fraco para sonhar, para criar. Está apenas mais uma vez esperando algo, esperando acordar para adormecer outra vez. Eu não suporto mais isto.
O amei como talvez eu não tenha imaginado quando nos conhecemos. Ainda és o que me dói no peito, e o que me tarda da vida. Não me quero com você mais.
Daquele que jamais o quererá outra vez. Henrique.
E foi com estas palavras que ele agradeceu não ter tomado o rumo, mais cedo, de outro caminho. Que agradeceu ter ido ao trabalho, e não desviado a rota de costume. No entanto, algo o assombrava as idéias: “como seria a vida de Henrique, como ele se faria depois dali? Será que os novos caminhos dele o farão lembrar-se sempre dos trajetos?”. Mas como de costume, deixou-se levar pela cômoda preguiça cômoda e caiu no sofá. E assim, sentado no sofá com seu vinho, e seu livro ele recompôs seu futuro. Mas não havia nada lá. Não haveria nada de novo pela frente. Ele não seria capaz de tentar nada. O nada seria sempre sua mais intensa busca, seu mais intenso desejo e prazer. O nada era a conquista do fracasso.